sábado, 22 de janeiro de 2022


22 DE JANEIRO DE 2022
CINEMA

CANÇÃO DE AMOR COM 2 HORAS DE DURAÇÃO

Filme com Alice Braga e Gabriel Leone, "Eduardo e Mônica" leva às telas a história contada na música da Legião Urbana

A jornada de Eduardo e Mônica em busca de seu final feliz não foi fácil. Na clássica canção de Renato Russo, a dupla precisou superar as suas várias diferenças e enfrentar barras pesadas para ficar junta. A transição da música para o cinema, claro, não poderia ser diferente. Além de todos os desafios presentes na história do casal, conhecido desde os anos 1980, os dois ainda precisaram encarar um problema recente: a pandemia.

O primeiro trailer do longa- metragem foi divulgado ainda em 2019, e a estreia deveria ocorrer no começo de 2020. Porém, devido à covid-19, o lançamento teve que ser adiado. Mas, como em toda história de amor que se preze, o encontro entre os protagonistas - que, neste caso, são os fãs e o filme que celebra a conhecida música do Legião Urbana - tem que acontecer no final. Dois anos depois, a espera acabou, e Eduardo e Mônica finalmente chegou aos cinemas (veja salas e horários na página 6).

Em entrevista a Zero Hora, Alice Braga, que vive Mônica no longa, conta que está envolvida com o projeto desde 2016, quando foi chamada para ser a protagonista. E, mesmo com as idas e vindas, um quase "não rolou", a frustração do adiamento e a ansiedade de, finalmente, poder mostrar o trabalho para o público, ela comemora o lançamento da obra:

- Acho que esse filme tem uma coisa de destino. Obviamente, a gente queria ter lançado em 2020. Estava tudo planejado. Mas veio a pandemia e acho que, por mais triste que tenha sido para a gente parar, esse é um filme que fala de amor, das diferenças, de encontro, de aceitação. Um filme para toda a família, um acalento. No Brasil que a gente está vivendo hoje, com esse governo tão duro, que não aceita o diferente, que preza a morte, espero que esse filme traga alegria e esperança para as pessoas.

Para o diretor René Sampaio, já conhecido pelos fãs da Legião Urbana por ter comandado a adaptação de Faroeste Caboclo, o sentimento de tristeza pelo adiamento do filme transformou-se em alegria e esperança:

- Talvez seja o filme que consiga reconectar o Brasil inteiro com o seu próprio cinema em grande escala. Tivemos outros lançamentos importantes, mas este é o filme que, pelo momento em que está saindo, pode trazer essa energia que o país precisa.

A letra de Eduardo e Mônica tem uma pegada mais leve em comparação com outros sucessos da Legião. Com isso, o final feliz e até mesmo partes cômicas poderiam ser um convite para produzir uma comédia romântica formulaica, daquelas que são feitas às pencas no cinema nacional - e que fazem sucesso, diga-se de passagem. Porém, o roteiro, que teve cerca de 80 versões e foi assinado por Matheus Souza em parceria com Claudia Souto, Michele Frantz e Jéssica Candal, encontra a sua sintonia justamente ouvindo a música.

Transformando quatro minutos e meio em quase duas horas de projeção, a adaptação se mantém fiel à letra de Renato Russo, fazendo poucos ajustes para ser mais cinematográfica e também para se adequar aos seus protagonistas. Assim, ao contrário de Faroeste Caboclo, que teve várias liberdades criativas, Eduardo e Mônica mostra, praticamente, verso por verso da canção, mantendo-se divertido e, ao mesmo tempo, com o drama na medida certa.

Dupla

Para Alice, embarcar nesse projeto foi uma volta ao passado:

- Na minha infância, quando eu ouvi pela primeira vez essa letra, foi com o Jorge Furtado. Minha mãe é amiga dele. Eu cresci com o Jorge, com os filhos dele, e eu lembro que a gente passava férias em Santa Catarina. E foi lá a primeira vez que eu me lembro de ter ouvido essa música. E eu estava com o Jorge e com o Pedro, o filho dele.

Essa declaração da atriz exemplifica a longevidade da canção, que vem sendo ouvida por gerações e conta com uma legião de fãs, que a conhecem de cabo a rabo.

- Eu sou o fã número 1 do meu universo. Então, faço para esse fã, mas com muita vontade de que os outros gostem - diz Sampaio, que já projeta levar mais uma canção de Renato Russo às telas, formando, assim, uma trilogia.

Como na música, sobra pouco espaço para outros personagens no filme que não sejam Eduardo e Mônica - apesar de a adaptação do avô do rapaz, um ex-militar conservador e com saudade da ditadura, vivido por Otávio Augusto, ter sido interessante. A dupla que dá nome ao longa concentra todos os holofotes, e isso se deve muito às atuações magnéticas de Alice Braga e Gabriel Leone, que estão excelentes em cena e, facilmente, devem assumir na mente dos fãs a personificação da dupla que vivia, anteriormente, apenas nos versos da canção de Renato.

- O René queria muito que a Mônica fosse solar. Ela é diferente das outras personagens que eu faço, que são mais densas, mais drama, principalmente, depois de cinco anos em uma série (A Rainha do Sul) com uma personagem superpesada. E acho que a coisa do rock, desse jeito dela mais politizado, veio do próprio Renato, da década de 1980, de imaginar essa galera, dessa idade, nessa época, do Brasil desse jeito. Eu eu amei e quis me desafiar. Foi muito bom sair dessa zona de conforto - afirma Alice.

Foi em sua vivência na Brasília da década de 1980, em um mundo que se conectava presencialmente, e não por meio de redes sociais - uma época mais simples, digamos assim -, que o diretor buscou inspiração para narrar esse romance, levando para as telas também pitadas de suas experiências pessoais. E tanto o cineasta quanto Alice são entusiastas da ideia de assistir ao filme no cinema para que, assim, o ano comece com um clima de aceitação e de amor.

- Uma delícia poder lançar um projeto como esse neste momento, com o povo vacinado. Começar este ano de eleição com um pouco de esperança, com alegria. Espero que as pessoas celebrem o cinema brasileiro, que é tão importante e precisa tanto de apoio e carinho - finaliza Alice.

CARLOS REDEL

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