12 DE MAIO DE 2018
MARTHA MEDEIROS
Primeira vez outra vez
Ao saber que o Donna estava celebrando 25 anos, fiz as contas para saber quando comecei a fazer parte dessa história. Descobri que desde sempre, praticamente. Meu primeiro texto para o caderno foi publicado em 03/07/1994, ou seja, 24 anos atrás.
Lembro bem daquela época. Eu recém havia retornado de uma temporada em Santiago do Chile, país que estava custando a se abrir: ainda não havia aprovado a lei do divórcio e liberdade sexual continuava um tabu - Madonna, por exemplo, não havia sido autorizada a fazer show na capital chilena durante uma turnê sul-americana.
Ao mesmo tempo, os Estados Unidos iniciavam uma campanha para estimular a abstinência entre os jovens, um movimento que visava reduzir a gravidez precoce, a incidência de aids e, de quebra, enternecer o coração (juro, isso também constava da defesa da virgindade). Pois o Brasil, que de santo nunca teve nada, embarcou nessa maluquice também: foram feitas reportagens com algumas atrizes em início de carreira que revelavam a intenção de se manterem virgens até o casamento.
Impressionada com tanto retrocesso, escrevi um texto sem ter onde publicá-lo, mas um amigo, o jornalista Dinho Eichenberg, o fez chegar às mãos de Xico Reis, então editor de Donna, e foi assim que fiz minha estreia, num cantinho de página, dando uma opinião pessoal que ninguém tinha pedido. Reproduzo este texto hoje, nesta data querida, resistindo à tentação de revisá-lo e reescrevê-lo, vício de todo colunista. Por coincidência, o título é bem parecido com o da minha crônica de domingo passado, o que demonstra que, para certas lutas, 24 anos não é nada.
POR QUE NÃO UMA
MODA UNISSEX?
Responda rápido: o que está na moda hoje? Se você respondeu que são as botinas pesadas e as minissaias em xadrez escocês, acertou em parte. Um olhar mais atento nas entrevistas que dão as atrizes globais vai fazer você reparar que o que está na moda mesmo é ser virgem. Isso mesmo, como se a virgindade fosse uma calça boca de sino, que vira símbolo de uma década, desaparece, volta de novo, simples assim.
Parece bobagem, mas o assunto é sério. Lizandra Souto, Isabel Fillardis e Camila Pitanga têm todo o direito de fazerem a opção sexual que acharem mais adequada, mas a mídia tem que ter cuidado na hora de divulgar esta opção como um modismo. E, o que é mais grave, como um modismo exclusivamente feminino.
Faz muito pouco tempo que a mulher conquistou o direito de ir para a cama com o homem com quem vai casar, e até mesmo com o homem com quem vai jantar, sem que isso barbarize a sociedade. Qualquer mulher inteligente quer fugir da cilada que é descobrir só na noite de núpcias que o namorado carinhoso fica violento quando está sem roupa. Não há conto de fadas que resista. E os homens sabem disso muito bem, tanto que preservam o hábito milenar de transar com quantas mulheres for preciso, até encontrar aquela com quem vão viver para sempre.
Já somos muitas, mas não são todas as mulheres que escolhem livremente a vida sexual que querem ter. Muitas ainda se reprimem, têm medo de serem castigadas pelos pais e de virar o assunto preferido dos vizinhos. Não é justo que, com tanto caminho pela frente, já se comece a andar pra trás.
Abram o olho, garotas! Está para nascer o dia em que veremos o Vitor Fasano, o Edson Celulari e o Maurício Mattar na telinha exaltando a maravilha que é se guardar para a lua de mel. Antes que isso aconteça, o cinto de castidade já vai estar nas passarelas de todo o país.