16 DE MAIO DE 2018
FÁBIO PRIKLADNICKI
ESPECTADORES
Teatro lotado. É lindo quando isso acontece, até a sonoridade da expressão é boa de se ouvir. Fica ainda mais legal quando o público não comparece apenas pelo fetiche de ver ao vivo uma estrela da televisão, mas pelo interesse em conhecer um trabalho teatral que despertou sua atenção. Assim foram as sessões a que assisti na primeira semana do 13º Festival Palco Giratório Sesc/POA, evento de teatro, dança e circo que vai até dia 26 na Capital. Quando as salas não estavam lotadas, tinham pelo menos um ótimo público.
Festivais costumam emprestar um selo de qualidade para as atrações. Se passou pelo crivo da curadoria (quando há curadoria), vale a pena ver. Nem sempre se gosta, mas o risco faz parte da experiência. Certo tempo atrás, havia - não sei se ainda há - um mito difundido entre artistas de que se um espectador assiste a um espetáculo e não gosta, jamais volta ao teatro. Será? Ainda estamos tentando entender as mudanças no comportamento do público nos últimos anos, especialmente com a tentação dos serviços de filmes e séries por demanda e por streaming consumidos no conforto do lar.
Ainda lembro de um espetáculo de Gerald Thomas no enorme Teatro do Sesi em 2005, Um Circo de Rins e Fígados, com Marco Nanini. Eram outros tempos. A última vez em que vi uma peça no Sesi foi em setembro último, no Porto Alegre Em Cena, um trabalho dirigido pela espanhola Angélica Liddell, nome de destaque internacional - muito embora sua proposta experimental possa ter afastado espectadores. Difícil comparar, mas uma ampla seção da plateia estava vazia na seção a que assisti.
Guardadas as proporções, é por isso que os teatros lotados do Palco Giratório emocionam. A presença desses espectadores nos devolve a crença nas artes cênicas como uma força transformadora. Até agora, na maioria das vezes, eles foram bem recompensados.
Alguns destaques: a atriz Amanda Lyra (SP) exibiu uma contundente atuação entre a narração e a representação como uma mulher sufocada pela vida de esposa e mãe no solo Quarto 19; o Coletivo Negro (SP) do frontman Jé Oliveira apresentou um acontecimento teatral-musical embalado pelo rap dos Racionais e pelos relatos das vidas de homens negros em Farinha com Açúcar ou Sobre a Sustança de Meninos e Homens; a Cia. dos Atores (RJ) mostrou virtuosismo e bom humor na fábula política Insetos, dirigida por Rodrigo Portella, o mesmo encenador de Tom na Fazenda, tecnicamente perfeita, que causou grande impacto cênico com uma história de homofobia e violência.
FÁBIO PRIKLADNICKI