sexta-feira, 11 de maio de 2018



Feliz Mãe do Brasil! 

Sim, claro, a gente sabe que amor de mãe só é menor, menos incondicional e eterno que o amor-próprio. Há quem diga que amor de mãe é o maior e incomparável. Uns dizem que o importante é o amor em si, que é maior do que as mães e filhos mortais. Acontece que se eu sou a mãe do Brasil e aí a coisa é ainda mais complicada. Ser a mãe da pátria amada, idolatrada, salve! Salve!, que é mãe gentil dos brasileiros, não é brinquedo não. Pois é, sou tipo vó dos brasileiros. 

Agradeço pelas flores, pelos cartões, pelos chocolates, mantinhas e meinhas de lã, camisolas de pelúcia, joias e bijuterias, DVDs e tudo mais, vocês são uns amores, filhos da pátria amada Brasil, que é minha filha querida. Tenho pensado neste rebento Brasil e por vezes me conformo refletindo que é melhor gostar dele do que tentar entendê-lo. O João Cabral de Melo Neto dizia que o parto do Brasil é demorado, mas a criança já nasceu ou será que não? Tom Jobim dizia que o Brasil não é para amadores. E eu, que sou a mãe do Brasil, o que posso dizer neste Dia das Mães? 

Que posso dizer neste momento de crise econômica, política, ética, de costumes e de outras crises? Que posso desejar nesse momento em que os filhos do Brasil fazem parte de uma família dividida, com vinte e poucos candidatos a presidente, trocentas divisões e brigas sem fim? Rezo pelo aparecimento de alguém ou de um grupo que consiga unir ao menos uma boa parte. Não está fácil. Quem sabe Nossa Senhora Aparecida tire de seu manto uma solução. Acima de tudo precisamos de uma reza bem forte, a maior de todas da História. 

Como mãe do Brasil eu claro que amo todos os meus filhos, de modo diferente, como todas as mães, mas amo a todos e espero que baixe um entendimento. Os brasileiros que eu quero são os cidadãos que pensem, ao menos um pouco, mais no interesse coletivo do que só nos interesses de sua tribo. Os filhos brasileiros do meu filho Brasil que eu desejo são as pessoas que respeitem a liberdade, a democracia, a honestidade e o que for melhor para o todo. Nem todos podem ter seus interesses atendidos tão rápido e tão completamente como querem. 

Precisamos conversar, nos unir e ver o que é possível. Não podemos nos dispersar, dizia o Tancredo Neves, que muita falta nos faz. Brigas e divisões são piores para todos e na real não são boas nem para os poucos que acham que se beneficiam do caos. Brigas e divisões muitas vezes interessam aos de fora, nesse mundinho globalizado em que o globo, desigual, é mais de uns que de outros. 

Como mãe do Brasil, tenho fé que nas eleições os filhos da pátria mãe gentil escolham bem, escolhendo os irmãos que corporifiquem melhor nossas virtudes. No Dia das Mães de 2019 espero encontrar uma família mais forte e unida, que deixe o coração da mãe mais leve e tranquilo. 

Uma família que consiga conviver com suas diferenças, dividindo melhor as expressões, as palavras, o trabalho e o pão e o sonho de construir uma verdadeira nação neste País de mais de oito milhões e meio de quilômetros quadrados. 

a propósito... 

A construção de uma sociedade e de um País toma tempo, diálogo, paciência, ética, valores e bons interesses coletivos. É obra pública, não é demais repetir. Cada um colocando seu tijolinho e seu esforço diário no edifício. 

Cada um pensando que com liberdade, democracia, transparência, honestidade, harmonia e desenvolvimento é possível melhorar o que está aí. Como dizia a linda canção do Ivan Lins: "Desesperar jamais, aprendemos muito nesses anos, afinal de contas, não tem cabimento, entregar o jogo no primeiro tempo". 

Eu, mãe do Brasil, conto com vocês e alguma coisa me diz que coração de mãe não se engana. Parem de brigar, meus filhos, que se não a mãe vai ter que tomar umas providências. É melhor vocês se comportarem, se não vão ficar de castigo. Viva a mãe e os filhos do Brasil! 

Jaime Cimenti 

Jornal do Comércio http://jcrs.uol.com.br/_conteudo/2018/05/colunas/livros/626156-tropicalia.html