quarta-feira, 3 de outubro de 2018



03 DE OUTUBRO DE 2018
EDUCAÇÃO

A FACULDADE É GRATUITA, MAS FALTAM ALUNOS

UNIVERSIDADES FEDERAIS DO RS tiveram 9,5% de vagas ociosas em 2017, mesmo com seleção disputada em vestibulares e por meio do Sisu. MEC planeja programa para combater baixa ocupação

Alguns dos cursos superiores mais concorridos do Estado estão com vagas sobrando. Até o final de setembro, a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), por exemplo, tentou em 15 editais diferentes convocar candidatos para ocupar vagas remanescentes do vestibular deste ano, e em outros 13 editais buscou atrair os classificados na lista de espera do Sistema de Seleção Unificada (Sisu) 2018. Ainda assim, existem lugares vazios nas salas de aula da maior - e mais disputada - instituição gaúcha de Ensino Superior.

Há vagas sobrando não apenas em graduações com procura relativamente baixa, como Ciências Contábeis e Química Industrial: na mais recente convocação para quem prestou o vestibular, divulgada no início de agosto, a UFRGS oferecia vagas em Psicologia - noturno (quarto curso mais concorrido de 2018, com 26 candidatos por vaga), Direito - diurno (com 13 candidatos por vaga), Arquitetura e Urbanismo (12 candidatos por vaga), Enfermagem (11 candidatos por vaga). E, por incrível que pareça, até em Medicina, a graduação mais disputada da universidade, com 83 candidatos por vaga (nesses cursos, as oportunidades são logo preenchidas, mas ainda surgem com frequência).

Quando essas vagas não são ocupadas, ficam ociosas, como aconteceu em 2017 na UFRGS e nas demais universidades federais do Rio Grande do Sul: das 27 mil vagas oferecidas em cursos presenciais, 2,6 mil não foram preenchidas, de acordo com o Censo da Educação Superior, divulgado pelo Ministério da Educação (MEC). Ou seja: no ano passado, 9,5% das matrículas disponibilizadas na rede federal gaúcha de Ensino Superior - que não cobra mensalidade durante toda a formação e em geral atinge bons índices de qualidade - não foram efetivadas por novos alunos.

ÍNDICE NO RIO GRANDE DO SUL ACIMA DA MÉDIA NACIONAL

O índice de ociosidade nas federais do Estado é ainda maior do que a média nacional. Em todo o Brasil, foi ofertado o ingresso de 322 mil estudantes em graduações presenciais no ano passado, e 7,5% dessas vagas sobraram.

Isso acontece porque, quando um candidato atinge o desempenho necessário para ser classificado e decide não ingressar no curso - ou, por uma variedade de motivos, não é considerado apto a se tornar um aluno -, aquela vaga fica remanescente. E preenchê-la não é um processo tão simples como ligar para o próximo colocado na lista e informá-lo de que foi aprovado (confira perguntas e respostas sobre o processo na página ao lado).

- Vagas remanescentes são aquelas não ocupadas nos processos seletivos de uma instituição. Existem universidades públicas tão concorridas que praticamente não sobram vagas, porque quem passa não quer saber de uma segunda opção e faz de tudo para ingressar. Mas há também casos de boas universidades que não preenchem essas vagas porque os aprovados decidem ir para outra cidade, outro Estado, ou simplesmente não ficam atentos aos chamamentos que acontecem depois do vestibular ou do Sisu - explica o especialista em educação Carlos Monteiro, que há 30 anos trabalha com consultorias na área.

MPF pede ação da UFRGS

Em documento enviado à UFRGS em abril, o Ministério Público Federal (MPF) recomendou que a instituição promovesse "esforços para preencher todas as vagas destinadas ao Sisu com alunos aprovados pelo próprio Sistema de Seleção Unificada". A recomendação previa que, se não fosse possível adotar as medidas neste ano, a UFRGS deveria pôr em prática outras formas de preenchimento das vagas, "com o intuito de ao menos assegurar o vínculo do aluno com a universidade para início das atividades acadêmicas em 2019".

O documento partiu da demanda de estudantes que, vendo as vagas que eles estavam disputando sobrarem sucessivamente, resolveram agir. Os candidatos - almejando lugar nos cursos de Fonoaudiologia e bacharelado em Física -, estavam desde janeiro na lista de espera e alegavam que a UFRGS destinava essas vagas a processos seletivos internos, como ingresso de diplomados, por exemplo, em vez de chamar os classificados que aguardavam uma oportunidade.

A universidade logo respondeu ao MPF, informando que ampliaria o aproveitamento de vagas não ocupadas no início do ano. Em julho - período atípico de convocação para o primeiro semestre -, a UFRGS garantiu: "A universidade considerou a possibilidade de ampliar ao máximo o aproveitamento destas vagas, e com base na disponibilidade informada pelos respectivos cursos, levando em conta condições físicas, técnicas e de segurança, está chamando candidatos do Sisu e do vestibular com vistas ao ingresso no 2º semestre de 2018".

A Secretaria de Comunicação Social explicou que existe baixa adesão aos chamamentos de vagas remanescentes, em especial aos de vagas surgidas tardiamente, em consequência das "inúmeras movimentações dos candidatos" - como aqueles que concorrem também pelo Sisu, mas são aprovados no vestibular. Para tentar minimizar essa baixa adesão e visando a ampliar as possibilidades de ocupação, a universidade implementou, neste ano, um "sistema de manifestação virtual de interesse à vaga", em que os interessados puderam se manifestar previamente, aumentando o percentual de adesão.

GUILHERME JUSTINO