sexta-feira, 22 de janeiro de 2021


22 DE JANEIRO DE 2021
OPINIÃO DA RBS

MUDANÇA POSITIVA

É animador o tom da carta enviada pelo presidente Jair Bolsonaro ao recém-empossado colega norte- americano, Joe Biden. Até poucos dias, Bolsonaro era o dono da voz mais estridente no coro que ecoava as teorias conspiratórias de Donald Trump. Depois de ser derrotado nas urnas, o agora ex-inquilino da Casa Branca alegou supostas fraudes na apuração e insuflou uma turba enfurecida a invadir o Capitólio, um dos símbolos da democracia ocidental. Por aqui, Bolsonaro, tocado pelo fracasso do ídolo, chegou a ameaçar reações ainda mais descabidas, caso os votos não sejam impressos em 2022 e ele venha a perder a disputa pela reeleição.

Bolsonaro foi um dos últimos chefes de governo do mundo a cumprimentar Biden, que só se referiu ao Brasil durante a campanha para prometer sanções caso a catastrófica política ambiental brasileira, liderada pelo ministro Ricardo Salles, não seja alterada.

Nos últimos tempos, idas e vindas em zigue-zague não são novidade em Brasília. Mas o texto conciliatório, pragmático e construtivo enviado por Bolsonaro a Biden é uma dessas mudanças que merecem aplauso. O primeiro veio do embaixador americano no Brasil, Todd Chapman, que avaliou a iniciativa como "bastante construtiva".

Para que a expectativa se transforme em realidade, é fundamental que, na prática, Bolsonaro e seu círculo mais próximo abandonem o discurso belicoso e o descuido com a Amazônia e com os outros ecossistemas que compõem um patrimônio natural único.

Entre os muitos pontos positivos da carta de Bolsonaro, está a defesa da democracia, da liberdade e dos laços de amizade que unem Brasil e Estados Unidos. Mas a tentativa de fortalecer as pontes com Washington só terá alguma chance de sucesso se o governo Bolsonaro assumir, de vez, o compromisso com o combate aos efeitos do aquecimento global, que incluem investimentos em energias limpas e combate ao desmatamento. Não se trata, há muito, de questões ideológicas, e sim de variáveis imprescindíveis na equação das relações econômicas, especialmente com a Europa e com os Estados Unidos, onde os mercados, cada vez mais, exigem das empresas e dos produtos, sejam eles industriais ou agrícolas, o compromisso com a sustentabilidade ambiental.

Independentemente dos próximos passos diplomáticos e econômicos, tanto de Brasília quanto de Washington, a mensagem de Bolsonaro é uma medida concreta na defesa dos interesses brasileiros, que não podem estar submetidos a ranços ideológicos ou pautados por bravatas. Que as palavras do presidente sirvam de inspiração, principalmente para o próprio governo Bolsonaro.

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