terça-feira, 12 de janeiro de 2021



12 DE JANEIRO DE 2021
NÍLSON SOUZA

A nova desigualdade

Em breve teremos uma nova divisão de seres humanos no planeta, além das já conhecidas e igualmente segregadoras categorias definidas por condição social, raça, nacionalidade, aparência física e neurônios: os vacinados e os desprotegidos. É o que se pode prever como consequência desta corrida maluca pela imunização deflagrada em meio ao pânico da mutação do vírus que, segundo os cientistas, teria se tornado ainda mais contagioso.

Na condição de leigo acuado por notícias cada vez mais alarmantes, fico imaginando que aquelas bolinhas cheias de tentáculos devem ter adquirido a capacidade de correr atrás de suas vítimas mascaradas, estejam elas onde estiverem, pois já era suficientemente apavorante saber que viajam de uma pessoa para outra em invisíveis gotículas de saliva.

Sem renunciar à seriedade que o assunto exige, não posso deixar de pensar em como se comportará essa nova categoria de indivíduos tão logo tenham a certeza de que estarão livres da ameaça letal. Passarão a se reunir em bares e baladas como muitos jovens que se julgam imortais e não estão nem aí para os parentes e amigos idosos? Abandonarão a máscara e os demais cuidados, reforçando o desconcertante grupo dos negacionistas? Formarão uma confraria de imunizados para usufruir dos prazeres da vida enquanto é tempo?

Se o discurso humanista apregoado pela Organização Mundial da Saúde e por algumas lideranças globais for observado, talvez nada disso ocorra. Com a prioridade dispensada a agentes de saúde e idosos, protege-se primeiramente não apenas os mais vulneráveis como também a parcela da população mais sintonizada com a gravidade do problema - profissionais que lutam diariamente para salvar vidas e pessoas com experiência suficiente para não cair na armadilha do descaso.

Mas o risco de descontrole é grande. Já na largada da corrida pela imunidade, é fácil perceber que os países mais ricos estão queimando a linha de partida, enquanto os mais pobres e mais desorientados sequer encontram a sua raia. Infelizmente, todas as vacinas para o vírus do egoísmo vêm se mostrando pouco eficazes. 

NÍLSON SOUZA

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