terça-feira, 14 de setembro de 2021


14 DE SETEMBRO DE 2021
+ ECONOMIA

O palavrão que volta a assombrar

O palavrão vinha aparecendo no debate econômico há alguns meses como um risco no horizonte. Com os números que emergem das revisões de estimativas de inflação e crescimento econômico em 2022, ganhou contornos mais nítidos.

Fenômeno "batizado" nos anos 1970 nos países desenvolvidos e vivido na prática entre os anos 1980 e 1990 no Brasil, um palavrão que designa o quadro que combina inflação alta e economia quase estagnada: estagflação. O debate sobre o diagnóstico se fortaleceu com a variação de -0,1% no PIB do segundo trimestre e a inflação elevada, como se viu na surpresa negativa com o resultado do IPCA de agosto.

Os números da edição de ontem do Boletim Focus, chancelam a hipótese. Todos os dados que contribuiriam para a estagflação acentuaram sua trajetória. A projeção de avanço no PIB para 2022, que já havia ficado abaixo de 2%, intensificou a desaceleração, de 1,93% na semana passada para 1,72% nesta semana. As projeções para este ano também diminuíram, pela quinta semana consecutiva, e já ameaçam "furar" o patamar de 5%, em apenas 5,04%.

No outro pilar, o da inflação, as estimativas para 2022 subiram pela oitava semana consecutiva, de 3,8% na semana passada para 4,03% nesta semana. Para este ano, a mediana (mais frequente) sofreu a 23ª elevação consecutiva e alcançou redondos 8%.

Um fator crucial para essa relação, que é a projeção do juro básico, também deu um salto, de 7,63% para 8% neste ano. E segue nesse patamar para 2022, o que significa que o mercado não vê melhora significativa no cenário que projeta para o próximo ano.

É a consciência de que os efeitos da alta do juro para segurar a inflação - crédito mais caro e menos consumo - vão se somar aos fatores que desenham os contornos da estagflação.

Escolha de 5G vai condicionar decisões dos EUA sobre o compartilhamento de dados

DOUGLAS KONEFF, Encarregado de Negócios da Embaixada dos EUA

Com a aposentadoria de Todd Chapman, o posto de embaixador dos Estados Unidos no Brasil é exercido por Douglas Koneff, como encarregado de negócios interino. Algumas das credenciais estão no currículo: atuou como secretário executivo adjunto do Conselho de Segurança Nacional na Casa Branca de 2009 a 2011 e atuou em comitês de gestão de crises. Na sexta-feira, Koneff assistiu ao desfile dos campeões na Expointer e visitou o Museu de Arte do Estado (Margs), que vai receber US$ 42 mil para digitalizar arquivos do Fundo dos Embaixadores, gerido pelo Escritório de Assuntos Educacionais e Culturais do Departamento de Estado.

- É uma forma de demonstrar como os EUA respeitam a cultura de outros povos. O consulado de Porto Alegre teve essa ideia, que aceitamos com prazer.

Koneff deu esta entrevista bilíngue à coluna - fala um ótimo português - depois de almoçar no restaurante do Theatro São Pedro. Foi a primeira gravada desde que assumiu o cargo.

Como o governo Biden vê a indicação do Brasil de permitir que empresas chinesas, como a Huawei, forneçam equipamentos para implantação do 5G?

Brasil, EUA e outros países têm de decidir como lidar de forma segura com essa tecnologia. O 5G é muito transformador, vai mudar a forma como gerenciamos energia, saúde, várias outras áreas. Temos conversado com o Brasil e outros países sobre como fazer isso de forma segura. O Brasil está concluindo a elaboração de seu edital, o que é maravilhoso, parabéns ao ministro Faria (Fábio Faria, ministro das Comunicações). É realmente o Brasil que tem de decidir. Apresentamos nossas ideias e nossa visão. Faria viajou a Washington para aprender mais sobre como uma rede privativa pode funcionar, e isso está previsto no leilão. Também falamos sobre alternativas, como Oran (Open Radio Access Network), uma solução de 5G baseada em software, tem múltiplos fornecedores, é flexível e mais barata. EUA, Japão, Coreia do Sul e países da Europa estão olhando. É alternativa para o Brasil, que procura a forma mais eficaz de usar essa tecnologia.

OS EUA haviam sinalizado que não poderiam compartilhar sistemas de defesa caso a Huawei fornecesse equipamentos. Com o sistema privativo do governo brasileiro, isso está resolvido ou ainda há cautela?

Não sabemos ainda como será a rede 5G no Brasil. O que estamos dizendo, nas conversas com o Brasil e outros países, é que, dependendo do tipo de rede 5G que for adotado, poderemos ter de tomar decisões sobre como vamos compartilhar dados, para manter as nossas informações seguras.

Qual é a expectativa dos EUA sobre a posição do Brasil na Conferência do Clima em Glasgow, dado o papel ambiental relevante do país?

Temos grandes expectativas, não só para o Brasil. Pode-se dizer que, depois da covid, é a maior prioridade do meu governo. É uma grande oportunidade para o Brasil ser líder no combate às mudanças de clima. Ficamos muito felizes em ouvir o presidente Bolsonaro em abril, na Cúpula de Líderes sobre o Clima. Nossas conversas, desde então, foram sobre como transformar essas promessas em práticas.

A proposta de neutralizar emissões de carbono até 2050 não é modesta?

Vimos a decisão do Brasil de elevar sua ambição de se tornar neutro em emissões de carbono até 2050, em vez de 2060, encurtando esse prazo em 10 anos, como um grande anúncio. O compromisso de eliminar o desmatamento ilegal até 2030 também é ambicioso. E sabemos que há uma discussão no Congresso de antecipar para 2025. Consideramos que o Brasil é sincero sobre a necessidade de enfrentar o desafio das mudanças climáticas.

Um dos acordos firmados entre Trump e Bolsonaro envolvia facilitação de comércio. Como avançou, e quanto depende da solução do 5G?

Não há conexão entre 5G e acordos de comércio e investimento. Esses são temas com metas de longo prazo. Os protocolos assinados em outubro passado mostram que o Brasil se torna ainda mais alinhado às economias ocidentais, e isso é muito importante. Você mencionou facilitação de comércio, também assinamos protocolos para práticas regulatórias e anticorrupção. Estamos falando sobre novos protocolos no futuro.

Há prazo para conclusão?

Não, não há. A pandemia mudou muitas coisas, e o Brasil tem muitas prioridades. Esperamos que esses protocolos sejam ratificados em breve, mas o Brasil tem uma agenda legislativa ambiciosa. Vamos continuar avançando para alinhar nossas economias. Na pandemia, fica difícil até dizer o que é lento e o que é rápido, é uma época maluca.

MARTA SFREDO

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