sábado, 18 de setembro de 2021


18 DE SETEMBRO DE 2021
OPINIÃO DA RBS

ORIENTAÇÃO EQUIVOCADA

Foi espantosa a forma como o Ministério da Saúde anunciou e depois justificou na quinta-feira a orientação de suspender a vacinação contra a covid-19 em adolescentes entre 12 e 17 anos sem comorbidades. Faltaram explicações plausíveis para sustentar a decisão, criticada de maneira unânime pelas demais autoridades da saúde e especialistas, por ser equivocada. Ao fim, restou confusão, ansiedade e insegurança para jovens e seus pais, além de o episódio ter se tornado mais um capítulo a preencher o histórico recente de condução atrapalhada do Programa Nacional de Imunizações (PNI) pela pasta.

Primeiro, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, alegou que a decisão estava baseada em uma série de reações adversas em adolescentes e pela investigação da morte de uma jovem em São Paulo. E também por uma suposta orientação da Organização Mundial da Saúde (OMS), que não recomendaria a vacinação de pessoas saudáveis nessa faixa etária. Rapidamente, no entanto, a argumentação foi caindo por terra. Os especialistas se apressaram em explicar que os casos de reações têm uma proporção ínfima e, em relação ao referido caso fatal, não há qualquer indício de casualidade com a vacina. 

Ou seja, os benefícios seguem superando em muito os riscos. O imunizante em questão, o da Pfizer, foi o único aprovado até agora pela Anvisa para adolescentes e a agência não viu qualquer razão para rever sua decisão. A posição da OMS referida por Queiroga também não é verdadeira. Inexiste contraindicação. O organismo diz apenas que adolescentes sem comorbidades não são prioridade. O que é lógico.

A postura do Ministério da Saúde, portanto, é lamentável por carecer de base técnica e por ter sido tomada sem discussão profunda. Ainda na quinta-feira, Queiroga deu a entender que a decisão teria a influência do presidente Jair Bolsonaro, conhecido por opiniões apartadas da ciência. Na sexta-feira o ministro negou a interferência presidencial, mas mesmo assim restam dúvidas pelo prontuário de ingerências de Bolsonaro na área. Também se suspeita que a deliberação teria como verdadeira motivação a falta de vacinas da Pfizer para a terceira dose em idosos. Quando não há a devida transparência, sobram desconfianças.

Diante da falta de uma argumentação razoável, a maior parte dos Estados e municípios decidiu manter a vacinação dos adolescentes saudáveis. É um indício de que, pela forma atabalhoada como age, o Ministério da Saúde perde credibilidade com os demais entes federados - uma lástima, por tratar-se de uma pandemia que deveria ter uma coordenação federal, de cima para baixo, idealmente baseada na lógica e no bom senso. Diante de uma hierarquia precária, as gestões locais buscam alternativas próprias para aumentar a cobertura vacinal. Um exemplo de inventividade vem da prefeitura da Capital, que está usando dados do Cadastro Único (CadÚnico), com auxílio de georreferenciamento, para detectar os bairros onde há menos imunizados e partir para uma busca ativa.

Vários países com a campanha de imunização adiantada estão vacinando crianças e adolescentes e não apenas com o fármaco da Pfizer. As pesquisas têm atestado eficácia e segurança dos imunizantes aprovados. Os mais jovens têm menos complicações com a covid-19, é verdade, mas também transmitem. Deter a circulação do vírus, portanto, também passa pela proteção a esse grupo. O Ministério da Saúde, que deveria ser fonte de esclarecimentos e conscientização, se tornou neste episódio um agente a semear dúvidas e insegurança. Espera-se que, em breve, a decisão seja revista. 

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