terça-feira, 21 de setembro de 2021


21 DE SETEMBRO DE 2021
NÍLSON SOUZA

O plantador de aroeiras

No extremo sul desta Capital valorosa e leal ao Império, mas que também reverencia como herói o general que a quis conquistar, existe uma praça com o nome de Largo Capitão Manoel de Campos Salvaterra. Fica no bairro Serraria, perto dos quartéis. Trata-se, na verdade, de um campinho de futebol semiabandonado, espaço infantil, cancha de bocha e uma precária cobertura, onde se reúnem nos fins de semana escassos aficionados do jogo das bolas de madeira e do carteado.

Desde que começou a pandemia, é nesse local que costumo fazer minha atividade física diária, caminhadas no ritmo forte recomendado pelo doutor Moriguchi e breves corridas, quase sempre na companhia de quero-queros e com trilha sonora de caturritas. Embora seja um espaço pouco frequentado, sem zelador permanente nem cuidados outros do poder público que não seja o corte bissexto da grama, venho notando que a cada semana surge uma nova planta nas margens do gramado. Plantas plantadas, mudas de árvores frutíferas ou ornamentais, todas protegidas por pedras ou cercados de madeira.

Aquilo me intrigava. No princípio, achei que era obra de algum morador das proximidades, provavelmente um aposentado sem espaço próprio para praticar jardinagem. Outro dia, porém, percebi um jovem curvado sobre o buraco recém feito, ajeitando a terra e cercando com tijolos uma pequena muda de árvore. Aproximei-me e perguntei:

- O que estás plantando aí? - Uma aroeira! - respondeu o rapaz, erguendo-se rapidamente, como se tivesse sido apanhado em transgressão.

E apressou-se em esclarecer: - É uma aroeira mansa, não provoca alergias.

Aí me disse seu nome, contou que tem 23 anos e trabalha num supermercado, mas sua atividade preferida nos dias de folga é plantar. Percorre matas e terrenos baldios em busca das mudas que estão transformando a praça esquecida num pequeno jardim botânico. Evidentemente, perguntei por que ele fazia isso.

- Porque gosto de ver as árvores crescerem - respondeu singelamente.

Não ignoro que esse tipo de atividade precisa de permissão da Secretaria Municipal do Meio Ambiente, mas era tal o entusiasmo do rapaz que preferi nem tocar no assunto. Como hoje é Dia da Árvore e véspera da chegada da Primavera, registro esta homenagem ao plantador de aroeiras - um desgarrado amigo da natureza num país que destrói suas florestas.

NÍLSON SOUZA

Nenhum comentário:

Postar um comentário