sexta-feira, 30 de dezembro de 2022


Jaime Cimenti

Clássico distópico de Robert Hugh Benson

O SENHOR DO MUNDO

O Senhor do Mundo (Avis Rara, 288 páginas, R$ 54,90) é um grande clássico sobre distopia que, sem exagero algum, está no mesmo patamar que Admirável Mundo Novo, de Huxley e 1984 de George Orwell. Todos são livros excepcionais, mas O Senhor do Mundo, do sacerdote e escritor Robert Hugh Benson (1871-1914), é muito superior aos outros, em termos de profecia.

Em sua obra, Benson imagina um mundo que caminha para um governo mundial autoritário, liderado por um político demagogo visto como um Deus. As liberdades individuais são suprimidas, as religiões são perseguidas, toda e qualquer sombra de transcendência e sobrenatural é criminalizada e uma falsa "religião da humanidade" é imposta a todos. Apenas uma força se opõe com vigor ao reino deste totalitarismo universal.

O planeta que O Senhor do Mundo retrata é o mundo do Anticristo e as semelhanças dele com o nosso são aterradoras. Nesse mundo, a paz universal é alcançada por meio do extermínio impiedoso dos que parecem ameaçá-la, e o perdão dos pecados é alcançado pela proibição da religião, a eliminação da pobreza, a introdução da comida sintética e pelo sacrifício dos inúteis e moribundos por meio da eutanásia. As diferenças individuais são eliminadas, todas as religiões são proibidas, com exceção da "religião da humanidade".

Quem acompanha o noticiário não pode deixar de espantar-se com a rapidez com que o nosso mundo caminha para tornar-se o pesadelo imaginado por Benson. A eutanásia é tratada de modo banal, o ambientalismo torna-se uma nova religião da natureza, a comida sintética já é uma realidade, organismos internacionais planejam a criação de um governo mundial e, em nome da democracia, a liberdade sofre restrições. Não se toleram divergências.

A profecia apocalíptica de Benson serve para evitar que se torne realidade e, enquanto é tempo, esse livro pode ser encarado como um manual de estudos e um guia prático de ação. 

Lançamentos

Abdominoplastia Pelos Mestres (Thieme Revinter, 482 páginas, R$ 68,00), dos consagrados doutores Fabio X. Nahas, Mauro F. Deos, Carlos O. Uebel, Marcelo M. Maino e Lydia M. Ferreira, tem 46 capítulos com textos, vídeos e aulas sobre abdome, com foco clínico e embasamento científico.

Faminta (Editora Patuá, 248 páginas, R$ 45,00), romance de estreia da advogada Tatiana Cavalcante, é uma densa e emocionante narrativa sobre Transtorno Alimentar e outras coisas. Traz verdades nebulosas e libertadoras, fala de fome insaciável e da ditadura alimentar que anda aí. Pungente narrativa.

Metaverso Educacional de Bolso - Conceitos, reflexões e possíveis impactos na educação (Editora do Brasil, 120 páginas, R$ 21,90), de Francisco Tupy, professor-doutor premiado e game designer, e Helena Poças Leitão, professora, jornalista e gestora de marketing de grandes editoras, é o primeiro livro sobre metaverso educacional do mundo. 

a propósito...

Mas então é isso. Passadas as alegrias e tristezas do Natal, agora vamos para os fogos de artifício, o espumante, as sete ondinhas, a roupa branca, o pé direito (uns estão aí dizendo que vão entrar com o pé esquerdo...), vamos traçar os bichos que fuçam pra frente e as lentilhas e tentar lembrar mais dos ganhos do que das perdas de 2022. Vamos pensar que sempre existem boas notícias, más notícias, mentiras, meias-mentiras, verdades e meias-verdades e que sempre existirá o silêncio apaziguador, a música boa, linguagem universal (que, junto com o amor, é o que temos mais próximo de Deus) e que sempre será possível as pessoas dialogarem com paz, humor e amor. (Jaime Cimenti) 

2022, o ano escalafobético

Escalafobético. Essa palavra aprendi, além de muitas outras lições, com meu Mestre Roberto Brenol Andrade, que desde 1969 brilha no Jornal do Comércio e segue nos mostrando como se deve ser, viver e fazer jornalismo. Escalafobético é palavra de origem desconhecida, e quer dizer desconjuntado, desengonçado, maljeitoso, extravagante e estrambótico. Alguns antônimos são comum, trivial, elegante e gracioso. Fiz meu trabalho, vocês não precisam consultar o Dr. Google.

A gente achou que depois da pandemia voltaria ao "novo normal", se é que realmente algum dia houve pessoas e mundo "normais". Cada ano que passa parece mais "anormal" e pós-moderno, sem regras, referências, parâmetros e fronteiras, e 2022 teve de tudo, como coisas que nunca aconteceram antes: mais de oito bilhões de seres no planeta, Nasa desviando asteroide, microplásticos detectados no sangue humano, Copa do Mundo cheia de estreias e surpresas, vacina contra a malária, LeDuc fazendo história na Olímpiada como não-binária. 

Viajamos mais no tempo com o telescópío James Webb, uma pessoa não-branca se tornou premier no Reino Unido e vimos bactérias sem microscópios. 2022 teve de tudo: morte surpreendente da Rainha Elizabeth, guerra, eleição bipolar, poderes em conflito, varíola dos macacos, maiores bilionários juntando US$ 1, 3 trilhão e o indiano Gautam Adani como o bilionário que mais ganhou em 2022, impressionantes US$ 55 bilhões.

Mas como disse Carlos Drummond de Andrade, o último dia do ano não é o último dia do tempo e nem o último dia de tudo e o Mario Quintana, sempre ele, nos poetou que o tempo é um ponto do vista dos relógios. Há milênios inventamos o calendário para "organizar e planejar nossas vidas" e para fazer melhores previsões meteorológicas. Calendários ajudam a organizar a vida individual, familiar, compromissos sociais e religiosos e ajudam a pautar os jornalistas para cumprir sua sagrada missão social.

Sim, não vamos nos esquecer que a invenção do calendário ajudou muito as pesquisas científicas e tecnológicas, a agricultura e saber qual roupa usar e para onde viajar. Hoje estou eclético: um olho na poesia, outro na ciência e outro nas coisas do além, como deve ser, embora neste mundo escalafobético as únicas certezas científicas e filosóficas que ainda existem são: pagar cada vez mais impostos e depois bater as botas, de preferência sem dor e antes do Internacional ganhar mais um título.

Em 2022, é bom lembrar, em meio a tanta informações e acontecimentos, que nosso País celebrou, embora com muito menos festas do que ele merecia, os 200 anos de nossa Independência. O parto de nosso Brasil é demorado, mas um dia deixaremos de ser o país da semana que vem para nos tornarmos uma Nação, e espero estar vivo para isso. Também espero ver nossa Seleção Canarinho ganhar mais uma Copa, embora, resiliente, nesse tópico estou achando que o importante é competir. 

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