sábado, 1 de outubro de 2022


01 DE OUTUBRO DE 2022
OPINIÃO DA RBS

O PÓS-ELEIÇÕES

Um olhar para o passado recente mostra que, desde 2013, a partir das manifestações de rua difusas depois batizadas de jornadas de julho, o país mergulhou em um período de constantes sobressaltos políticos, institucionais e sociais. Neste intervalo, passaram-se duas eleições gerais tensas, um impeachment e a mais grave pandemia em um século, episódios que aprofundaram a cisão da sociedade. Foram 10 anos em que o mundo cresceu e se desenvolveu, enquanto o Brasil ficou para trás, amarrado em embates fratricidas. É tempo de virar esta página da História.

São mais de 156 milhões de cidadãos aptos a irem às urnas neste domingo. Elegerão 27 senadores, 513 deputados federais, 1.035 parlamentares estaduais e outros 24 distritais. Neste primeiro turno, votam também para o governo de 26 Estados e do Distrito Federal e, principalmente, para presidente da República, disputas que podem se encerrar neste 2 de outubro ou serem decididas no próximo dia 30.

Mais importante do que os nomes dos eleitos é a postura que irão adotar. Dos vencedores, nos Executivos e nos Legislativos, esperam-se gestos na direção do serenar de ânimos e da recuperação de um país mais fraterno e unido. O pós-eleição vai exigir dos ungidos pelas urnas mensagens claras de que se comprometem a trabalhar em nome dos interesses de toda a população e seus estratos, e não apenas para os seus apoiadores mais empedernidos. A mesma responsabilidade tem de ser demonstrada pelas candidaturas derrotadas e seus eleitores. O primeiro ato voltado a colaborar com a aquietação nacional e com o fortalecimento da democracia deve ser o acatamento do veredito dos votos. Reerguer o Brasil requer a cooperação de toda a sociedade, afazer em que precisam estar inseridos vencedores e vencidos, como partícipes de um mutirão cívico.

O país tem sérios problemas a enfrentar em temas como educação, saúde, preservação de recursos naturais e ambiente de negócios, entre várias outras áreas. Não há dúvida: será menos custoso suplantar esses desafios se, no lugar das desavenças inconciliáveis, existir um esforço comum para buscar o entendimento em torno de consensos mínimos que permitam ao país avançar e levar maior bem-estar à população.

O Brasil é uma democracia jovem, em busca do desenvolvimento, da construção de uma economia mais próspera e da diminuição da desigualdade social. Eleições periódicas justas e limpas fazem parte das premissas do Estado de direito. Assim como a aceitação de seus resultados. A alternância no poder deve ser compreendida como algo natural e salutar. Grupos que hoje estão na situação e na oposição, em alguns pares de anos, podem trocar de lugar. 

Assim, deve-se crer que todos preferem, quando chegar a sua vez, gerir um país na trilha do progresso para aperfeiçoá-lo, e não administrar escombros e gastar tempo e energia apenas para sair de crises. Acima da disputa política, portanto, precisa estar o compromisso com o futuro do Brasil e dos brasileiros. Isso inclui, no âmbito federal e nos Estados, um comportamento consequente das oposições, o que não elimina a tarefa de fiscalizar e cobrar os situacionistas, de forma dura mas civilizada, como deve ser em uma democracia hígida.

Mas é da figura a presidir o Brasil pelos próximos quatro anos, eleita ou reeleita, que deve vir o principal chamamento para a sociedade deixar para trás a polarização destrutiva. Quem ocupar o Planalto de 2023 a 2026 surgirá legitimado pelo sufrágio da maioria absoluta dos eleitores e terá o dever moral de, pela força do exemplo, semear a mensagem capaz de iniciar, inclusive, a cicatrização das feridas de relações pessoais abaladas por divergências ideológicas.

Ao eleitor, que neste domingo começa a desenhar o novo mapa do poder, cabe votar com consciência, conhecendo a trajetória, os ideais e as propostas dos candidatos. Pede-se sabedoria semelhante aos nomeados pelo povo e aos derrotados para que, cientes do espírito do tempo, firmem um armistício que permita ao país superar os dissensos de lesa-pátria da última década.

OPINIÃO DA RBS

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