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11 DE OUTUBRO DE 2022
NÍLSON SOUZA

Tempo de inconformismo

Mostra-me o que vestes e eu te direi quem és. Principalmente se tua roupa for uma dessas camisetas com inscrições ou imagens que revelam teus gostos, teus ídolos ou tua maneira de ver a vida. Tinha razão aquela consultora de moda que comparou a camiseta básica a uma tela em branco, com potencial para virar cartão de apresentação do usuário.

"Jovens inconformados" - estampavam no peito duas adolescentes que encontrei outro dia num semáforo de Viamão. Claro que a curiosidade do cronista falou mais alto. Antes que o sinal abrisse, questionei uma delas:

- Inconformadas com o quê? - Com o mundo de hoje! - me respondeu prontamente a menina.

A luz verde interrompeu o nosso breve diálogo. Segui adiante, pensando naquela resposta rápida e conclusiva. O inconformismo é sempre um sentimento de desconforto e de insubmissão, que tanto pode ser direcionado para o bem quanto para o mal. É como a tela em branco referida pela estilista: cada um escreve nesse espaço de insatisfação o que lhe parecer mais conveniente - sabendo que, depois, responderá por seu posicionamento.

Será que o mundo de hoje está assim tão decepcionante para a juventude? Aquela menina talvez não saiba, mas eu, que já vivi outros mundos - o de ontem, o de outras décadas e até mesmo o de outro século -, posso garantir que não eram tão melhores do que o atual. Eram diferentes, é verdade, talvez menos contaminados pela ansiedade, mas também habitados por dúvidas, aflições e inconformidades.

Não creio que a preocupação daquelas moças uniformizadas seja apenas o atual momento político do país, pois, como descobri mais tarde, suas camisetas identificam um movimento religioso. Porém, como as coisas andam meio misturadas ultimamente, já não duvido de nada. A propósito, em passado não muito distante tivemos um presidente da República que também estampava mensagens em camisetas. Uma delas, ainda hoje premonitória, dizia: "O tempo é o senhor da razão".

Acabou sendo mesmo para o próprio, que sequer chegou a completar seu mandato. Pois essa sentença inexorável, caríssima mensageira da irresignação, continua atual, tanto para os políticos que se digladiam pelo poder quanto para todos nós, cúmplices ou vítimas dessa disputa de ódios. Mas nada dura para sempre. Como ensina o Eclesiastes, que teu grupo jovem deve conhecer bem, tudo tem seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu. Até para o inconformismo.

NÍLSON SOUZA