sexta-feira, 16 de dezembro de 2022


13 DE DEZEMBRO DE 2022
NILSON SOUZA

Xarope amargo

Perder dói! E não tem consolo imediato. Não adianta dizer que a dor passa, que foi um aprendizado, que todos perdem em algum momento da vida ou mesmo que houve injustiça. O perdedor é que precisa encontrar o próprio caminho para administrar sua dor. O único lenitivo que realmente funciona como panaceia é um xarope chamado Tempo, cuja fórmula é sempre individual e exclusiva. E a verdade é que não cura, só atenua.

Minha reflexão rasa sobre esse assunto transcendental - lógico! - vem da Copa do Mundo. Mas poderia ter vindo também do último pleito eleitoral no país. Agora e antes, os perdedores custam a se conformar, procuram culpar alguém, resistem em aceitar que a derrota talvez se deva ao mérito maior do adversário. É da natureza humana, acho: o homem nasce sabendo que vai perder no fim, mas passa a vida tentando se convencer de que pode adiar sua inexorável derrota para as calendas gregas.

Observando a reação dos famosos diante de suas derrotas, fico pensando se não existe aí uma oportunidade para esse pessoal que trabalha com imagem e reputação. Media training neles. Mesmo os multicampeões, os heróis do esporte e os mitos da política deveriam ser preparados para todas as hipóteses:

- Tudo bem, o seu pronunciamento de vitorioso está excelente, a sua roupa está preparada, você pode dedicar a Copa para a turma do Jardim Irene, mas, quem sabe, a gente planeja também alguma coisinha para a hipótese remota - toc! toc! toc! - de alguma coisa não sair muito certo...

Já ajudaria bastante planejar o que não fazer em caso de frustração: - Não saia do campo antes de abraçar seus atletas! Não fique emburrado! Não agrida o árbitro nem culpe os ministros do Supremo! E nada de jogar o gato no chão!

Sei, tem coisa que é espontânea. Não dá para prever tudo. Ninguém tem sangue de barata - talvez os ingleses, mas nem sempre. Como ser magnânimo quando seu time passa o tempo todo atacando, está ganhando o jogo e, no último minuto, o adversário faz um gol espírita na única conclusão, leva para os pênaltis e o goleiro deles pega tudo?

Chorar pode. De certa forma, alivia um pouco a alma do guerreiro frustrado e atenua a revolta daqueles que não entram em campo. Mas as lágrimas secam e permanece lá no fundo do peito aquela dorzinha interna do que poderia ter sido e não foi. E não adianta beber todo o

xarope de uma só vez. Ele só faz efeito quando sorvido em pequenas porções.

NÍLSON SOUZA

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