16 de janeiro de 2017 | N° 18743
L.F. VERISSIMO
Ser ou não ser
Temos uma maneira curiosa de declarar algumas das nossas predileções. Dizemos “sou Inter” em vez de “torço pelo Internacional”. “Torcer” nos manteria distante do time preferido, na arquibancada, longe das botinadas do inimigo. “Ser” significa nos identificarmos totalmente com nosso time, ser Internacional da cabeça aos pés, padecer do que ele padece, vibrar quando ele vibra – enfim, descer da arquibancada.
Mas o “ser” nem sempre se aplica quando se trata de uma escolha. Certa vez, conversávamos sobre papas e misses, e alguém na roda foi categórico:
– Sou João XXIII e Marta Rocha.
Em tudo na vida, precisamos distinguir entre “ser” e simpatizar. Simpatizo com outras escolas de samba, mas sou Imperadores.
E, em tudo na vida, é preciso deixar claras nossas predileções, e a que grupos pertencemos.
Você, por exemplo, é dos que abotoam a camisa de baixo para cima ou de cima para baixo?
É dos que raspam a manteiga ou tiram pedaços?
É dos que espremem o tubo de pasta de dente da ponta para cima, ou não?
Das Jennifers, prefere a Lopez, a Lawrence ou a Aniston?
Gil ou Caetano?
Melhor Tarzan.
Superman ou Batman?
Falando sério: do jeito que cresce o poder da facções dentro das nossas cadeias criminosamente lotadas, em breve, além do time, da escola de samba, do jeito de abotoar a camisa, de cortar a manteiga e espremer o tubo de pasta de dente, de atriz, compositor, Tarzan, super-herói, papa e miss, teremos que nos definir: para tomar conta do país “somos” Primeiro Comando da Capital, Comando Vermelho ou Família do Norte?