sexta-feira, 27 de janeiro de 2017



27 de janeiro de 2017 | N° 18753 
NÍLSON SOUZA

A TECNOLOGIA DA ETERNIDADE


A ressurreição digital já é uma realidade em Hollywood. Atores e atrizes mortos durante as gravações de filmes, ou mesmo desaparecidos anos antes, têm sido recriados para concluir o trabalho – com tamanha perfeição, que até seus melhores amigos ficam em dúvida.

O caso mais recente, e que está provocando repercussão, é o do britânico Peter Cushing, que interpreta Moff Tarking em Rogue One: Uma História Star Wars. Cushing já virou pó de estrela há mais de 20 anos, mas foi ressuscitado agora em cima dos movimentos de outro ator, que teve sua aparência modificada digitalmente para ficar igual ao personagem do quarto episódio de Star Wars, de quatro décadas atrás.

O recurso também está gerando controvérsias por parte dos atores e de seus familiares, principalmente devido a questões relacionadas a direito de imagem. Precavido, Robin Willians – que se suicidou em 2014 – proibiu o uso comercial de sua imagem até 2039. Outros, porém, até veem com simpatia a possibilidade de continuarem sendo filmados depois de terem partido para outra dimensão. Não duvido de que brevemente seja criada mais uma categoria na premiação do Oscar, para atuações póstumas.

Saindo do cinema para a vida real, não é absurdo pensar que logo, logo essa tecnologia da eternidade estará ao alcance de todos nós – e que muita gente pagará para ver seus finados interagindo novamente com a vida, ainda que seja de mentirinha. Não é mais ou menos o que já se faz hoje em certas redes sociais? Com a vantagem de que, nas postagens, somos todos bons, belos e perfeitos. A realidade é que às vezes atrapalha.

A ficção com imagens é tão convincente, que os vilões das novelas costumam ser hostilizados na rua. Se a holografia já causa arrepios, a filmagem de pessoas extintas com novos gestos, movimentos e palavras deve mesmo deixar a impressão de que elas ressuscitaram. Quem garante que em breve não poderemos fazer isso com nossos celulares? Que medo!

Melhor pensar que seremos suficientemente sensatos para ressuscitar digitalmente nossos mortos apenas para revê-los quando a saudade apertar. Nada de fazê-los trabalhar novamente.