domingo, 29 de janeiro de 2017



elio gaspari
29/01/2017  02h00

Prepotência de Eike servia à corrupção

Nascido na Itália, veio ainda criança para o Brasil, onde fez sua carreira jornalística. Recebeu o prêmio de melhor ensaio da ABL em 2003 por 'As Ilusões Armadas'. Escreve às quartas-feiras e domingos.

Em junho de 2011, o empresário Eike Batista admitiu que emprestara o seu jatinho Legacy ao governador Sérgio Cabral para que ele chegasse a um resort da Bahia para a festa de aniversário do seu amigo Fernando Cavendish, dono da empreiteira Delta. Interpelado sobre a eventual impropriedade do mimo, Eike vestiu o manto de homem mais rico do Brasil, oitavo do mundo, e respondeu:

"Tive satisfação em ter colocado meu avião à disposição do governador Sérgio Cabral, que vem realizando seu trabalho com grande competência e determinação. Sou livre para selecionar minhas amizades, contribuir para campanhas políticas, trazer a Olimpíada para o Rio (...) e auxiliar a realização de diversos projetos sociais e culturais do Estado".

Batista exercitava a superioridade dos poderosos. Ele sabia a natureza de suas relações com o governador e tinha certeza de que esse segredo jamais seria rompido. Entre 2009 e 2011 o casal Cabral voara 13 vezes nas asas de Eike, mas isso era apenas um aperitivo. Ele deslizara US$ 16,5 milhões para os bolsos de Cabral, sempre "com grande competência e determinação".

A sabedoria convencional leva as pessoas a acreditar que empresários muito ricos são também muito inteligentes. Os casos de Eike e de Marcelo Odebrecht mostram que às vezes a prepotência lhes embaça o raciocínio.

Eike não precisava ter assumido um tom principesco ao tratar do empréstimo do avião. Da mesma forma, em 2014, ao ser incriminado na Lava Jato, Odebrecht deu uma lição de moral à imprensa: "A euforia de se publicar notícias de impacto em período eleitoral extrapolou o razoável. (...) Neste cenário nada democrático, fala-se o que se quer, sem as devidas comprovações, e alguns veículos da mídia acabam por apoiar o vazamento de informação protegida por lei, tratando como verdadeira a eventual denúncia vazia de um criminoso confesso e que é 'premiado' por denunciar a maior quantidade possível de empresas e pessoas".

Tanto no caso de Eike como no de Odebrecht, as suspeitas de 2011 e 2014 revelaram-se conversas de freiras. A verdade ia muito além. Para glória da Viúva, Marcelo Odebrecht e seus 77 executivos tornaram-se "criminosos confessos". Eike irá pelo mesmo caminho.

Preguiçoso

Um conhecedor das mumunhas das corrupção revelou-se surpreso com os costumes de Sérgio Cabral. Segundo ele, o ex-governador foi um caso de corrupto preguiçoso.
Habitualmente os ladrões pegam a sua parte e vão em frente. Veja-se o caso dos milionários das petrorroubalheiras. Cabral, porem, usava seus doleiros para pagar contas corriqueiras, como IPTU, IPVA ou mesmo conserto de carros. Aí o caso não é apenas de corrupção, mas preguiça mesmo, pois nem isso ele fazia.

Francis faz falta

Paulo Francis morreu em 1997, mas está fazendo uma falta danada. Diversas idiossincrasias de Donald Trump parecem ter saído do almanaque do jornalista.
Ele ficaria feliz ao saber que o presidente americano quer que organizações internacionais como a ONU, Otan e OEA vão às favas.

Lota avisou

Em dezembro de 2012, quando o poderoso Eike Batista queria transformar a Marina da Glória num mafuá anexo ao hotel Glória, Lota Macedo Soares, a genial criadora do aterro do Flamengo que se matou em 1967, mandou-lhe um e-mail. Ela dizia ao bilionário que não devia pavonear sua riqueza.

O chinês Huang Guangyu e o russo Mikhail Khodorkovsky foram os mais ricos de seus países e acabaram na cadeia.

Eike achava que Lota era doida e que suas amizades nos governos municipal, estadual e federal resolveriam qualquer parada.

Saudades

No tempo do mensalão, o ministro Joaquim Barbosa era visto como uma encarnação do Tinhoso. Veio a Lava Jato e com ela o juiz Sergio Moro. Muita gente ficou com saudade de Joaquim Barbosa.
O juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal do Rio, deixará poderosos marqueses do Rio com saudades de Moro.

Madame Natasha

Madame Natasha teve uma paixão juvenil por Mário Américo, um negro parrudo que acompanhou a seleção brasileira em sete copas do mundo como massagista. Chamavam-no "o homem das mãos de ouro".
Natasha está inconformada com o aparecimento da palavra "massoterapeuta" para designar massagistas.

Se alguém dissesse a Mário Américo que ele era um "massoterapeuta", talvez apanhasse.

Gandra é barbada 

Depois que foram conhecidas as opiniões do doutor Ives Gandra Filho sobre o papel das mulheres, o divórcio e o casamento de bípedes com quadrúpedes, ele se tornou uma barbada para uma cadeira na mais alta corte da Arábia Saudita.

Peña Nieto

A briga de Donald Trump com o México pode sair cara para quem der simpatia automática ao presidente Enrique Peña Nieto.

O doutor está no vértice de um regime corrupto (não é o único) e já foi apanhado com a mão na massa. Em 2014, uma equipe de jornalistas chefiada por Carmen Aristegui revelou que a mulher de Peña Nieto ganhara de um empreiteiro uma casa cinematográfica, avaliada em US$ 7,5 milhões.

Mexendo seus pauzinhos, poderosos mexicanos desempregaram Aristegui e outros dois colegas. (Ela continuou trabalhando na CNN.)

Em julho de 2016, Peña Nieto pediu desculpas ao povo mexicano pelo "erro" imobiliário. Levou dois anos para perceber.

Trumpistão

No dia da posse de Trump, sua secretária de Educação, a milionária Betsy DeVos, postou uma mensagem de 18 palavras. Cometeu dois erros de inglês e um de estilo.