sexta-feira, 8 de setembro de 2017



Jaime Cimenti

New York Não tem pra ninguém: 

New York não é cidade capital, capital de estado ou capital nacional. NY é a capital do mundo, o centro do planeta, o passado, o presente e o futuro. Nova Iorque é tudo e mais um pouco. Densidade, diversidade, dinheiro e criatividade sobram. New York mudou, sempre mudou, muda e mudará a cada segundo, mas o belíssimo ensaio do jornalista e escritor E.B. White, Here is New York (aqui é NY), escrito em 1948, ainda é um dos melhores retratos da alma da cidade.

Na primeira frase do imortal ensaio de E.B. White ele diz que a cidade oferece para qualquer pessoa que os deseje, dois excêntricos prêmios e presentes : solidão e privacidade. Depois da web, privacidade anda escassa, mas no meio dos oito milhões e meio de habitantes, que falam mais de 170 línguas, de dezenas de origens, quem quiser, mesmo sendo celebridade, pode curtir os mimos oferecidos. 

Há quem diga que a cidade é desconfortável, cara, com apartamentos pequenos, barulhenta com suas sirenes histéricas de carros de bombeiro fulgurantes e ambulâncias de velocidade leporina, mas os nova-iorquinos não saem de lá, não ligam para conforto. Lá quase todo mundo é um tipo, num palco Broadway, onde os espetáculos teatrais e musicais se renovam, buscando alguns dos 50 milhões de visitante anuais da Big Apple. Melhor o seria The Biggest Apple, a maior de todas. Há quem reclame da "NY atitude", certa pressa, pessoas falando alto, rápido e ao mesmo tempo, de assuntos por vezes diferentes, tipo na Itália ou em Israel. 

No final a eficiência, o profissionalismo e alguns sorrisos remanescentes mostram que dá para levar, não desconfiar ou reclamar de todos e ver o milagre do metrô funcionar vinte e quatro horas e ter luz, água e outras infras para todos. Você não precisa fazer como Dorothy Parker, ícone de NY, que dizia que de manhã escovava os dentes e afiava a língua. Numa noite de Natal ela tomou umas a mais e disse para o Cristo crucificado: é seu aniversário, dá um sorriso... 

Bem Nova Iorque. Ler O melhor guia de Nova York, do Pedro Andrade, os livros de Caio Blinder, Airton Ortiz e Nelson Motta sobre a cidade ou outras dezenas de guias e obras sobre NY e planejar a viagem é uma maravilha, mas sempre deixe espaço para sair caminhando, andar de táxi, metrô, trem, ônibus, helicóptero, carruagem, bicicleta, motocicleta ou barco pela cidade, de preferência sem rumo certo e dar de cara com o inesperado, com pessoas, lugares e situações que vão te fazer dirigir e protagonizar o teu próprio filme em NY, a cidade mais filmada do mundo, a Hollywood do Leste. Gospel no Harlem no domingo, cachorro-quente na esquina ou não, café na Grand Central Station, missa na Catedral de Saint Patrick, bicicleta no Central Park, overdose de museus fantásticos, ouvir jazz em clubes ou lugares que tocam a melhor criação dos Estados Unidos. 

Essas e milhões de coisas seguem para a alegria de todos, na cidade que é o maior encontro de etnias do mundo e que discute a todo o momento o que é melhor para a metrópole e para quem está lá.   

a propósito... 

Um dos esportes favoritos de NY, além de falar de grana e trabalho, é dar de cara com celebridades em praças, bares ou restaurantes, mas não tietar muito, ao melhor estilo nova-iorquino. É legal e pode até render uma foto no smarthphone. Melhor ainda é encontrar pessoas e histórias diferentes, improváveis. 

Pessoas são como NY, únicas e intransferíveis, sejam celebridades ou não. Um restaurante no Soho, salão e cozinha minúsculos, serve a comida direto nas panelas, de aço, pelas garçonetes magrelas se esgueirando entre as mesas e pessoas que ficam próximas, todo mundo ouvindo o chefe italiano falando alto os nomes dos pratos.

No almoço tem promoção.  - Jornal do Comércio (http://jcrs.uol.com.br/_conteudo/2017/09/cadernos/viver/584059-a-mae-dos-artefatos.html)