Semana Farroupilha,
gaúchos e rio-grandenses Com o brilho e o garbo habituais, comemoramos mais uma Semana Farroupilha, evento estadual aprovado em lei e que, além dos CTGs e do Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG), envolve os rio-grandenses de todas as querências, dessa terra que é um grande e rico mosaico cultural.
Por certo temos que ter orgulho de nossas façanhas, que podem/devem servir de modelo para toda a terra e, claro, temos orgulhos de nossas modelos que, igualmente, servem de modelo e façanhas para toda a terra. Gisele Bündchen, Ieda Vargas, Iolanda Pereira e Deise Nunes, entre outras, mostram que somos campeões em Miss Brasil e que os sangues mesclados de índios, negros e europeus geraram as mulheres mais bonitas do planeta, modéstia às favas.
Nesse momento de festa, podemos até aproveitar para pensar criticamente sobre nossas origens e sobre nossas divisões políticas, regionais, futebolísticas, culturais, comerciais e industriais. Já pensamos em Pacto pelo Rio Grande na Assembleia Legislativa, a ADVB lançou uma simpática campanha Rio Grande do Sim, mas seguimos muito grenalizados e isso acaba nos prejudicando. Precisamos dialogar, ficarmos unidos em favor das causas maiores do Rio Grande.
Em meio ao milhão de pessoas que circulam pelo Acampamento Farroupilha e a tantos números que nos orgulham, especialmente os 1.700 CTGs do Estado, o embaixador aposentado e escritor porto-alegrense Fernando Cacciatore de Garcia lançou a importante obra A origem do gaúcho e outros ensaios (Buenas Ideias, 128 páginas). Cacciatore, entre outras obras sobre história e arte, redigiu Como escrever a História do Brasil e A arquitetura neoclássica em Porto Alegre.
O autor nos fala, com apoio em muitas leituras, pesquisas e reflexões, sobre a palavra gaúcho sua história e origem, os "gaúchos antigos", o aparecimento do gaúcho e, igualmente, fala do preconceito que muitos brasileiros de outros estados têm com os gaúchos. Nos outros ensaios do livro, Cacciatore fala da impossível Linha de Tordesilhas, de Dona Leopoldina iluminista, de iluministas e anti-iluministas e o caso da Academia Brasileira de Belas Artes, dos Brasis de Borges. O autor desmonta lendas como a de que os gaúchos têm origem na Argentina e, com grande erudição e sem medo de opinar, fala de nossas origens e de livros sobre gaúchos.
Como se sabe, o tema comporta dúvidas, polêmicas e ainda está em aberto. Quem é o gaúcho? De onde veio a palavra e como se desenvolveu sua história de séculos no pampa? Ser gaúcho é um destino? Eduardo Bueno, na apresentação, escreve: "Gaúchos são sombras numa correnteza de grama, com um pé no estribo e um pé na estrada. No ensaio que abre o livro, Cacciatore dispôs-se a dissipar algumas dessas sombras, tingi-las de outras cores e dar-lhes esqueleto - mesmo que para isso fosse preciso tirar alguns do armário".
a propósito...
Dizem que gaúcho é sinônimo de rio-grandense, mas penso que é melhor o adjetivo rio-grandense. Ele comporta os gaúchos de todas as querências e não só os mais ligados ao pampa. Rio-grandenses estão desde o Chuí até Iraí, de Torres a Três Passos, passando por Santa Maria e na direção de Pelotas e Rio Grande, Bento Gonçalves e Caxias. Rio-grandenses são índios, negros e brancos, raça humana única. Somos todos rio-grandenses, parte do mosaico maravilhoso de paisagens, pessoas, história, arte e cultura.
Sonho com uma grande festa rio-grandense. Nada contra festas nas cidades e nas regiões, que devem continuar. Tudo a favor de mais diálogo e união. Disso muito precisamos, que a coisa tá feia. - Jornal do Comércio (http://jcrs.uol.com.br/_conteudo/2017/09/colunas/livros/586397-para-amar-clarice-lispector.html)