sábado, 17 de setembro de 2022


17 DE SETEMBRO DE 2022
FLÁVIO TAVARES

VIOLÊNCIA E VIOLENTOS

A cada dia, a violência nos cerca como um intruso noturno entrando à luz do sol em nossas vidas. O crime se torna parte do cotidiano, gradativamente, e deixamos até de perceber a violência. Ou nos acostumamos a ela.

Não me refiro apenas aos vis assassinatos, como os feminicídios (que crescem sem parar), mas ao estilo de vida em si. Quase tudo na sociedade atual nos conduz à violência. A falsa música do "tum-tum-tum" (com batidas em vez de harmonia) é ponto de partida para que aceitemos o ruído violento.

Nas crianças, os jogos eletrônicos (que dizemos games, em inglês) são uma competição em que vence quem "mata" mais. Eliminar o outro significa vencer, abrindo portas a matar de verdade na vida adulta.

Mata-se para roubar o celular ou o carro. Dispara-se numa discussão no trânsito. Aumentam os casos de feminicídio, em que o aparente amor de ontem se transforma em ódio mortal. A essa distorção somam-se as mortes por diferenças políticas, frequentes a partir de 2018. Neste 2022, houve no país 26 assassinatos por diferenças políticas, mais do que a soma em todas as campanhas desde a redemocratização.

Como já lembrei aqui, não há pena de morte no Brasil, mas a polícia se arvora do direito de matar. O recente caso de São Gabriel é um exemplo claro desse absurdo no qual a Brigada Militar, de limpa tradição, parece imitar o horror do Rio e de São Paulo.

Dias atrás, em campanha pela reeleição no interior paulista, o presidente Bolsonaro afirmou "ser necessário" armar a população como ato de "legítima defesa", especialmente na zona rural. Esqueceu-se de que superamos a mania, comum ainda no século 20, em que o revólver fazia parte da indumentária masculina?

De parte dos governantes, há ainda a violência de cortar verbas para a saúde ou a educação. Agora, em trágica decisão, o presidente Bolsonaro cortou cerca de 60% das verbas do Programa Farmácia Popular, mas preservou os bilhões do orçamento secreto que os parlamentares do centrão destinam a inúteis obras demagógicas.

Nada, porém, supera a violência do narcotráfico. De um lado, a droga é destrutiva e afeta corpo e mente. De outro, as diferentes gangues do narcotráfico se matam entre si, numa guerra pelo controle de área.

Jornalista e escritor - FLÁVIO TAVARES

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