sábado, 24 de setembro de 2022


24 DE SETEMBRO DE 2022
+ ECONOMIA

A fábrica que não vende e tem museu

A coluna abre uma exceção para um caso que não é exatamente um negócio, até por atuar sem fins lucrativos, mas que já faz parte do patrimônio imaterial do Estado, para encerrar a Semana Farroupilha. A Fábrica de Gaiteiros é um projeto do músico Renato Borghetti criado em 2011 para ensinar crianças a tocar acordeon e difundir a música tradicional.

No início, um susto: o instrumento não era produzido no Brasil há mais de 30 anos, e importar seria financeiramente inviável. A saída foi ter fabricação própria, para então "produzir" também os gaiteiros.

- É talvez a única fábrica do mundo em que o produto final não é vendido. O objetivo mesmo é ensinar a criançada a tocar e ajudar a renovar essa cultura. A gente produz os instrumentos aqui, e depois distribui para as escolas parceiras e organiza as aulas - explica Newton Grande, coordenador-geral da Fábrica de Gaiteiros.

Grande foi convidado por Borghetti a trabalhar no projeto em 2014, mesmo ano em que a fábrica conseguiu se instalar em sua sede atual, um prédio histórico restaurado em Barra do Ribeiro. Abriga a produção, com vitrines que permitem aos visitantes observar o processo, salas de aula e uma biblioteca.

Há parcerias com 17 escolas, 14 no Rio Grande do Sul e três em Santa Catarina, somando 440 alunos. Em outubro, começará a atuar também em duas cidades uruguaias, Tacuarembó e Treinta y Tres, após acordo com o Ministério da Cultura do Uruguai.

O que pouca gente sabe é que a fábrica pode ser visitada. E além de observar a produção, que já soma 190 acordeons, existe um museu da história do instrumento - que começa com um relojoeiro alemão em 1820 - e sua inserção no Rio Grande do Sul. Entre as peças, há um acordeon produzido pela fábrica a partir de um projeto do ano de 1495 do italiano Leonardo da Vinci, outro todo transparente, onde é possível ver as mais de 1,9 mil peças do instrumento.

Para viabilizar a Fábrica de Gaiteiros, no início da operação o instituto fechou parceria com a CMPC Celulose, com sede em Guaíba. Nos últimos anos, o projeto recebe financiamento pela Lei Rouanet, que é a lei de incentivo à cultura no Brasil.

- Como não temos atuação comercial, o viés do projeto é totalmente social, educacional e cultural - destaca Newton Grande.

Serviço: a visita é totalmente gratuita. A Fábrica de Gaiteiros em Barra do Ribeiro fica aberta de quarta-feira a domingo, das 10h às 13h e das 14h às 17h. Não há, no local, venda de qualquer produto, nem de instrumentos produzidos.

MARTA SFREDO

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