sexta-feira, 23 de setembro de 2022


Lanceiros Negros

Os dias 15 e 20 de novembro já fazem parte do calendário oficial do Brasil, o primeiro há mais de um século; o segundo, aos trancos e barrancos, desde 2011. O dia 15 remete ao golpe militar concretizado com base numa fake news (a de que Dom Pedro II iria nomear o gaúcho Silveira Martins para o lugar do Visconde de Ouro Preto, derrubado por Deodoro na confusa quartelada que passou à história com o nome de Proclamação da República). Já o dia 20, data da morte de Zumbi, virou, por sugestão do militante negro gaúcho Oliveira Silveira, o Dia da Consciência Negra. É feriado em mais de mil municípios de 19 dos 28 Estados do Brasil.

O Rio Grande do Sul é uma das nove unidades da federação que não acolheu o projeto do senador Randolfe Rodrigues, estimulado pelo senador gaúcho Paulo Paim, para que a data virasse feriado. Por isso, embora esse país já tenha feriados o bastante, fica a singela sugestão de que, em vez do dia 20, vire feriado por aqui o 14 de novembro. Seria tipo o Dia da Má Consciência Branca. Pois a 14 de novembro de 1844 se deu o massacre de Porongos, quando cerca de cem Lanceiros Negros foram mortos no combate que virtualmente marcou o fim da Guerra dos Farrapos, aquela que ainda chamam de Revolução Farroupilha.

Pairam dúvidas, falácias, lacunas, acusações vis, reticências e mentiras deslavadas em torno do infame episódio. Que os lanceiros eram negros, que tinham sido escravos, que a liberdade lhes fora prometida, que inúmeras vezes demonstraram bravura em combate e que foram mortos na calada daquela madrugada, são fatos indiscutíveis. Agora, que tenham sido desarmados e então foram traídos é algo jamais comprovado - e cuja história se baseia noutra fake news: uma carta forjada na qual o então Barão de Caxias teria combinado o desarme e o massacre dos lanceiros com o general farroupilha David Canabarro.

Há muito mais a falar sobre o tema, amplo, intenso, dramático, revelador. Bom saber, por exemplo, que embora em geral representados montados a cavalo, eles lutavam a pé: eram peões de infantaria, e, ainda assim, às vezes enviados à frente da cavalaria. Mas o tempo urge e o espaço é curto. Então, por ora, basta dizer: visite a exposição Lanceiros Negros, fotos de Márcio Pimenta com intervenções artísticas de Paula Taitelbaum, em cartaz na Procuradoria-Geral da República em Porto Alegre, e veja como os Lanceiros Negros seguem bem vivos em nossos dias.

EDUARDO BUENO 

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