sexta-feira, 9 de dezembro de 2016



09 de dezembro de 2016 | N° 18710 
NÍLSON SOUZA

A VOZ DAS RUAS

E se as ruas de Porto Alegre realmente falassem?

Penso nisso cada vez que ocorre uma dessas manifestações políticas em que as pessoas pisam distraídas sobre o asfalto e as pedras que homenageiam celebridades históricas, locais ou universais, sem se darem conta de que aqueles personagens referidos nas plaquinhas já tiveram os seus dias de protagonismo.

– Ouçam a voz das ruas! – recomendam os comentaristas políticos aos próprios, depois de cada manifestação.

Referem-se, evidentemente, aos cânticos e palavras de ordem dos manifestantes. Mas as ruas também falam. Basta uma consulta aos locais preferidos pelos porto-alegrenses para os seus protestos e teremos lições antológicas.

A Goethe, por exemplo. Vejam que atual, adequada e irônica esta frase deixada pelo escritor e estadista alemão que lhe deu o nome, Johann Wolfgang von Goethe:

– As pessoas tendem a colocar palavras onde faltam ideias.

Se pularmos do verde e amarelo do Moinhos de Vento para o vermelho da Lima e Silva, com seus bares e brechós, veremos que Luís Manuel de Lima e Silva, tio do Duque de Caxias, não deixou grandes frases para a história, mas deixou o exemplo da disciplina militar e da firmeza de princípios. “Os Lima e Silva combatem a hidra da anarquia”, afirmou uma das biógrafas da família. Já o Duque, Luís Alves de Lima e Silva, legou-nos uma célebre mensagem de patriotismo:

– Sigam-me os que forem brasileiros!

Seguimos, então, pela João Pessoa, que é um dos caminhos preferidos das marchas “anti” qualquer coisa. João Pessoa Cavalcanti de Albuquerque, paraibano assassinado em Recife, deixou na bandeira de seu Estado uma palavra de sua campanha política que contempla bem o espírito de contrariedade dos manifestantes:

– Nego! Ele negava o candidato oficial do governo federal à Presidência da República.

Negando tudo isso que está aí, seguimos em frente. Ao dobrarmos na Sarmento Leite, poderemos ouvir uma sarcástica dica do médico e político republicano Eduardo Sarmento Leite, que talvez dê sentido às manifestações quase diárias nas ruas da Capital:

– Pobre só vai para a frente empurrado.