20 de dezembro de 2016 | N° 18719
ARTIGO | DENIS LERRER ROSENFIELD
ÉTICA E POLÍTICA
A delação de Cláudio Melo Filho teve um grande efeito político. Independentemente das alegações jurídicas concernentes ao seu vazamento, as suas consequências não se deixarão sentir por atingir o âmago mesmo do governo Temer, além de parlamentares da base aliada e, mesmo, oposicionistas.
Ela expõe com particular clareza o problema da corrupção e, mais especificamente, uma questão de ordem moral, que tem um profundo impacto na opinião pública. Não convém esquecer que a moralidade pública é uma questão, hoje, no Brasil, propriamente política. A ética tornou-se uma questão intrínseca à política e, enquanto tal, é percebida pela sociedade.
Observe-se que esta delação é, apenas, a primeira de uma série de 77. Alguns chegam mesmo a considerá-la de terceiro escalão, havendo outras mais importantes que estão por vir, e virão em um futuro imediato. Deve-se considerar que algumas se tornarão públicas, provavelmente, até o final deste ano e uma outra grande leva em fevereiro. Faltam ainda as delações, certamente explosivas, de Emilio e Marcelo Odebrecht, dos presidentes de todas as empresas do grupo envolvidas, além dos diretores de Relações Institucionais dessas empresas. Não dará para morrer de tédio.
Há um profundo impacto de questões morais na opinião pública. As redes sociais são um bom exemplo disto. A corrupção não é mais tolerada. Mesmo delitos que anteriormente poderiam ser considerados como menores são severamente condenados. Surge, agora, uma grande novidade, expondo o quanto essas ideias se apoderaram dos mais diversos grupos sociais.
Aparece, atualmente, uma interconectividade entre movimentos ditos de direita (MBL, Vem pra Rua) e de esquerda (MST e MTST). Isto não significa, evidentemente, que eles possam estar logisticamente e politicamente unidos, mas que há pautas comuns que estão se formando. A mais importante delas é a luta contra a corrupção.
Pode vir a ocorrer, segundo os novos desdobramentos da Lava-Jato, uma forma de união nas manifestações de rua. Isso mudaria completamente o quadro político. Se o governo Temer não apresentar uma mudança ética no ministério, a bandeira contra a corrupção poderá voltar-se contra ele.
Eis um desafio para o atual governo. Ele terá, necessariamente, de entrar em sintonia com a sociedade, fazendo sua a bandeira da ética na política. As medidas econômicas, por mais importantes que sejam, não poderão, por si só, garantir o seu sucesso. A moralidade pública deverá estar, também, presente.
*O colunista escreve às terças-feiras neste espaço.