sábado, 31 de dezembro de 2016



31/12/2016 e 01/01/2017 | N° 18729
PALAVRA DE MÉDICO | J.J. CAMARGO

O TAMANHO QUE TEREMOS

Todas as pessoas, em escalas variadas de ambição e força, procuram conquistar uma posição de significância aos olhos dos seus pares. Excluindo os invejosos, que nunca irão a lugar nenhum, e absolvidos os frouxos e desanimados congênitos, estaremos falando da maioria dos homens e das mulheres deste mundo de inquietudes heterogêneas. É com esses personagens que construiremos a história contemporânea, onde estamos inseridos.

No fim da I Guerra Mundial, havia no País de Gales um pequeno povoado que ficava ao lado de uma elevação, de onde se podia ver todas as cercanias, casas, riachos e caminhos. Os habitantes do lugar se orgulhavam daquilo que chamavam de a montanha da vila.

Um dia, dois cartógrafos passaram pelo lugarejo e, após cuidadosas medições, constataram que a elevação não passava de uma colina, pois o cume não chegava aos mil pés de altura necessários para ser classificado como montanha. A autoestima dos habitantes foi cruelmente abalada.

De orgulho machucado, organizaram-se e, durante muitos dias e noites, homens, mulheres, velhos e crianças, carregaram toda a terra e pedras que podiam transportar e despejaram no topo da colina. A seguir, conseguiram trazer os cartógrafos de volta e, após novas medições, a colina voltou a ser montanha.

Há alguns anos, aqui mais perto do pago, um velho estancieiro soube, no início de uma manhã, que um dos pais de cabanha mais valiosos tinha sido encontrado caído num poço profundo, de onde a retirada era virtualmente impossível.

Sentado na beira do poço, condoído com o sofrimento do fiel parceiro de tantas andanças, ordenou que o sacrificassem, e partiu lacrimejando. Os empregados decidiram que era mais fácil soterrá-lo, mas se surpreenderam ao ver que, às primeiras pás de terra, o cavalo, num esforço enorme, se ergueu, e inconformado, relinchou.

E assim, a cada nova remessa de pedregulhos, ele prontamente sapateava elevando-se do fundo do poço. Os peões, entusiasmados com a reação do velho gateado, aceleraram o processo e, depois de algumas horas, com o espaço aterrado, o garanhão saiu caminhando do calabouço.

É certo que o grau de inconformismo com o tamanho que temos determinará o tamanho que teremos. De certa forma, tal como os habitantes daquele povoado, na nossa vida estamos sempre carregando terras e pedras para fazer da nossa colina a montanha que sonhamos.

E quando tudo parece determinado para que afundemos, encontramos forças, que nem sabíamos ter, para sacudir a poeira e emergir. Uns nasceram para ser grandes, outros se contentam em ser pequenos, mas, no dia em que se encontrarem, eles terão exatamente o mesmo tamanho, por isso não vale a pena se preocupar com as diferenças.

Aqueles que, correnteza acima, ainda conseguem vislumbrar nesta luta cotidiana a oportunidade de melhorar a vida dos mais fracos se justificam. Os outros apenas sobrevivem.

O ano novo vai começar. Decida em que time você pretende jogar. E não se estresse com ameaças de rebaixamento porque, como você deve ter aprendido, os grandes não só caem, como quando se esparramam no chão fazem um barulho danado. Mas conforta saber que é sempre possível recomeçar.