01 DE SETEMBRO DE 2017
MÚSICA
Elegância pop roqueira feita para tocar no Theatro São Pedro
Um show classudézimo que tem cara de chorinho e bolero. É assim que Filipe Catto resume Over, turnê que o artista gaúcho apresenta neste final de semana em Porto Alegre. Acompanhado dos violões de Pedro Sá e de Luís Lima, o músico irá mostrar um set intimista, com canções de seus discos e covers de artistas como Chico Buarque, Billie Holiday e Portishead. O cantor, que completa 30 anos neste mês, explica:
- Foi fácil escolher o repertório. Quis cantar um monte de música bafo. O show se chama Over porque é um bafo. Só que não é um bafo da high society. Ele finge que é chique, mas não é chique, mas é chiquérimo porque é cafonérrimo. Essa é a viagem. Quis apresentar o que realmente amo.
A turnê, explica Filipe, encerra um ciclo que se inciou em 2015, com o álbum Tomada.
- Over é uma homenagem a mim por ter vivido tudo o que eu vivi. Estou tocando com os músicos que mais admiro num formato que acho clássico, imponente, majestoso para a música, cantando o que gosto de cantar no chuveiro.
Para chegar ao formato dos shows que serão realizados no Theatro São Pedro amanhã e no domingo, o músico buscou fazer algo que fosse "extremamente elegante".
- Só que, para isso, tenho que misturar coisas não óbvias. Elegante é você colocar uma música importante para a cultura popular hoje junto de músicas que são importantes para o inconsciente coletivo, como Medo de Amar, de Vinicius de Moraes, e Flor da Idade, de Chico Buarque. E o meu filtro para escolher essas músicas é a questão autobiográfica.
Entre as canções elencadas, chama a atenção a presença do hit Infiel, da cantora sertaneja Marília Mendonça, "o Lupicínio Rodrigues de 2017", nas palavras do músico.
- Hoje as pessoas bebem e choram ao som de Marília Mendonça. E isso está ótimo, não estou dizendo que é melhor ou pior que o Lupicínio. Ela é única, autêntica. E Infiel é um grande bolero. Se isso tivesse sido gravado há 40 anos ia estar todo mundo de terno e gravata cantando, aplaudindo e chorando no Theatro Municipal do Rio de Janeiro - acredita Felipe, que completa: - Mas, como foi composta em 2017, parece subcultura. É mentira. E daqui a cem anos todo mundo vai lembrar dessa música. E é porque ela é um clássico que estou cantando, não porque é engraçada.
Outro ingrediente importante dos shows é o retorno do músico a Porto Alegre - a última apresentação de Filipe na Capital rolou em março do ano passado, no Opinião.
- Nunca estive tão próximo de Porto Alegre quanto neste último ano. A impressão das pessoas é que estou ausente, mas vivi a cidade de uma forma muito natural, muito boêmia, com meus amigos. Ao mesmo tempo, sinto muita falta de cantar em Porto Alegre - explica Filipe, para quem música é sinônimo de saudade, um sentimento que remete para o que o cantor viveu na Capital.
- Essa beleza eu vivi intensamente nesta cidade. Tudo o que canto tem um pouco daquela pessoa que pegava ônibus pós-Beco (casa noturna no bairro Independência) às 5h da manhã para ir para o Sarandi, que andava a cidade inteira a pé. Essa pessoa é a que estará cantando ali no Theatro São Pedro, que é um palácio para a minha música. Ao mesmo tempo, estarei com meus amigos. E isso é muito foda. Sou muito grato por isso - afirma o músico, que deixou Porto Alegre para viver em São Paulo em 2010.
- No fim das contas, é só um show em que vou cantar um monte de músicas que adoro, pra gente se divertir, chorar juntos, se abraçar e se amar. Mas é mais do que isso.
rafael.balsemao@zerohora.com.br