domingo, 3 de setembro de 2017



Processo vergonhoso

Apu Gomes/AFP
Brazilian President Michel Temer attends the opening ceremony of Brazil's National Foreign Trade Meeting (ENAEX), in Rio de Janeiro, Brazil, on August 9, 2017. / AFP PHOTO / Apu Gomes
O presidente Michel Temer
BRASÍLIA - O governo entrou em setembro à beira de um ataque de nervos. Na noite de sexta, a Presidência emitiu uma nota agressiva, com ataques aos delatores Lúcio Funaro e Joesley Batista. No revide, o dono da JBS chamou Michel Temer de "ladrão geral da República".

O Planalto tenta se antecipar ao que vem por aí: a segunda denúncia criminal contra o presidente. A estratégia, mais uma vez, resume-se a um esforço de desqualificar quem acusa. A novidade é o ataque a Funaro, apontado como operador dos esquemas do PMDB da Câmara.

A nota oficial diz que o doleiro é um "criminoso notório e perigoso", movido pela "vontade inexorável de perseguir o presidente da República". Em outro trecho, o documento assume tom de folhetim e se refere ao delator como "essa pessoa".

Na versão do palácio, Funaro prestou um depoimento falso para servir a quem tenta derrubar Temer. O problema é que "essa pessoa" não foi inventada pelo Ministério Público ou pela oposição. Quem pôs Funaro na roda foi o advogado José Yunes, primeiro-amigo do presidente.

Em março, Yunes contou ter recebido um "pacote" das mãos do doleiro, a pedido do ministro Eliseu Padilha. O advogado disse que não abriu a correspondência, mas afirmou ter sido usado como "mula involuntária" do chefe da Casa Civil.

Doleiros não entregam flores, entregam dinheiro vivo. Segundo o depoimento de Cláudio Melo Filho, o "pacote" continha R$ 1 milhão e fazia parte de um acerto da Odebrecht com o grupo de Temer. À exceção de Yunes, os outros personagens da história continuam no Planalto.

A nova denúncia dará início a outra rodada de negociações para salvar Temer. O presidente estuda antecipar a volta da China para se reunir com deputados, que também não costumam receber flores. Em meio aos ataques a Funaro e Joesley, a nota do Planalto disse que está em curso um "processo vergonhoso". Deste ponto, parece impossível discordar.