segunda-feira, 12 de março de 2018


12 DE MARÇO DE 2018
ARTIGO

TRUMP, O PEDAGOGO


"Não é preciso que todos os professores saibam atirar. Calculo que uns 20% deles poderiam ser adestrados com armas."

Donald Trump, presidente dos EUA

Os severos métodos educacionais de Esparta, cidade de guerreiros, deixaram sua marca na história. Não poderia haver escolares mais infelizes do que seus jovens. As surras eram constantes e os castigos bestiais (chiamastigosis). Tanto assim que, mesmo quando a cidade caiu sob tutela romana, no século II a.C., os costumes desumanos continuaram imperando na educação, agogê, ou domesticação, justa palavra usada pelos "senhores do látego" para definir seus métodos. O objetivo era a disciplina e forjar a coragem para a guerra.

A fama dos "espetáculos pedagógicos" dos espartanos era tal, que turistas de várias partes do Mediterrâneo aos magotes enchiam o ginásio local para se horrorizar com o tratamento imposto aos rapazes.

O cristianismo, se bem que suavizou os métodos escolares, não dispensou as penitências. Afinal, como concluiu Santo Agostinho, "todos nascem em pecado?? e deviam ser corrigidos já na infância. Nas escolas paroquiais do Medievo, imperavam a vara e a palmatória, como alternativas severas aos procedimentos tidos como brandos (ajoelhar-se sobre um grão de centeio) e que mesmo assim geraram muito ódio quando os ex-alunos, mais velhos, referiam-se com mágoa senão com ódio ao seu tempo escolar. Uns tinham pesadelos que os acompanhavam por larga parte da existência. Numa famosa entrevista dada por Stalin a Emil Ludwig, em 1932, ele deu a entender que perdera para sempre qualquer vestígio de fé na bondade quando aluno do seminário ortodoxo de Tífilis na sua Geórgia natal.

O vislumbre de uma nova abordagem decorreu do esforço de J.J. Rousseau, cuja obra-prima pedagógica Emílio, de 1762, ganhou o mundo. Era revoltante seviciar os estudantes, visto que para ele "todos os humanos nascem bons". Gradativamente, as punições físicas, nesses dois séculos em meio, caíram em desuso. Rousseau deu início ao fim do professor-tirano.

Quanto à sugestão do presidente Donald Trump de transformar alguns mestres em pistoleiros - tipo Bronco Bill ou Jane Calamidade, percebendo as escolas como um Ok Curral -, beira a demência e deve ter sacudido os ossos dos dois maiores educadores norte-americanos: Waldo Emerson e John Dewey.

Historiador chillin@terra.com.br - VOLTAIRE SCHILLING