26 DE MARÇO DE 2018
L.F. VERISSIMO
Duelo
Em outros tempos, o bate-boca entre os ministros Gilmar Mendes e Luís Roberto Barroso só poderia terminar de um jeito: num duelo. Pistola ou espada, à escolha do ofendido. Ou, no caso, do mais ofendido. Em outros tempos, lavava-se a honra com sangue, mesmo que, muitas vezes, o sangue detergente fosse só de um arranhão. A História está cheia de duelos dos dois tipos, os que terminavam em morte e os que terminavam em empate - com os dois vivos ou os dois mortos.
Alexander Hamilton, um dos chamados pais da pátria americana, morreu num duelo com Aaron Burr, terceiro vice-presidente dos Estados Unidos na administração de Thomas Jefferson. O poeta russo Alexander Pushkin morreu num duelo com o marido enganado da sua amante. Já Salvador Allende e seu desafeto político Raúl Rettig sobreviveram a um duelo sem sangue. E o último duelo realizado em Portugal, em 1925, teve um morto - de síncope, dias depois.
Gilmar Mendes e Luís Roberto Barroso não poderiam confiar na própria pontaria ou destreza com a espada, ou na pontaria ou destreza com a espada do adversário, e escolher o tipo de duelo que lhes conviria. Mas só mostrarem-se dispostos a arriscar a morte para defender sua honra os redimiria - e redimiria o Supremo - aos olhos da nação.
E pensemos no espetáculo inédito. Praça dos Três Poderes. Primeiras horas de uma manhã brumosa. Chegam os duelistas, acompanhados dos seus padrinhos. A ministra Cármen Lúcia oferece a possibilidade de conciliação. Nem Gilmar nem Luís Roberto aceitam. Gilmar declara a extensão da sua revolta:
- Psicopata, não!
São definidas as regras do duelo. Escolheram espadas. Luís Roberto insiste que Gilmar seja revistado, para prevenir um punhal escondido.
L.F. VERISSIMO