quarta-feira, 21 de março de 2018


21 DE MARÇO DE 2018
NÍLSON SOUZA

A melhor professora do mundo



A britânica que ganhou esse título no último final de semana aprendeu a se comunicar em 35 idiomas diferentes para melhor atender crianças imigrantes e refugiadas na periferia de Londres. Chama-se Andria Zafirakou e levou US$ 1 milhão, valor oferecido pela Varkey Foundation ao educador que tenha feito uma contribuição relevante para a profissão. Andria é professora de artes, mas também desempenha funções extraclasse, auxiliando os alunos a chegarem com segurança ao transporte escolar sem serem abordados por traficantes. A escola em que ela atua, a Alperton Community School, localiza-se numa das áreas mais pobres e violentas do Reino Unido.

Contemplo essa notícia inspiradora na minha crônica semanal não apenas para fugir da rudeza dos assuntos nacionais, mas também para retomar o debate sobre educação, caminho prioritário para aprumar esta nossa pátria-mãe desamparada. O Brasil já colocou todas as suas crianças na escola, mas ainda está a anos-luz de distância das nações desenvolvidas em termos de qualidade de ensino.

São muitas as mazelas do nosso sistema educacional, mas certamente não nos faltam professores voluntariosos e dedicados como a inglesa premiada.

Tenho amigos professores e professoras que são verdadeiramente apaixonados pela profissão e dedicam o melhor de seus esforços para exercê-la dignamente. Uma delas, inclusive, gosta de comparar sua atividade à do jovem que juntava estrelas-do-mar agonizantes na areia quente e as devolvia ao oceano, historinha muito utilizada em palestras motivacionais. Questionado por um escritor sobre a utilidade de seu gesto, já que milhares de animais morreriam e só uns poucos poderiam ser salvos, o benfeitor teria mostrado a estrelinha que estava em sua mão e dito, antes de jogá-la nas ondas:

- Para esta, eu fiz a diferença.

Assim, acredita minha amiga, deve ser uma educadora. Mesmo que sua tarefa pareça inglória, que a profissão seja desvalorizada, que faltem recursos para tudo, ela pode fazer a diferença para seus alunos. Se não para todos, pelo menos para alguns.

E, para esses, ela será sempre a melhor professora do mundo.

Um brasileiro participou do concurso milionário. Diego Mahfouz Faria Lima é diretor de uma escola municipal em São José do Rio Preto, São Paulo, campeã de evasão e delitos até sua chegada. No seu primeiro dia de trabalho, os alunos colocaram fogo num banheiro e jogaram água no novo diretor. Em um ano e meio, ele promoveu atividades culturais, esportivas e de lazer para a comunidade, atraiu as famílias, eliminou a evasão e implantou uma gestão democrática. Ganhou a parceria dos estudantes.

- Quando eles faltam, vou até a casa deles para ver por que faltaram e também para demonstrar que sentimos falta deles na escola - conta.

Precisa dizer mais?

NÍLSON SOUZA