quarta-feira, 28 de março de 2018


28 DE MARÇO DE 2018
NÍLSON SOUZA

Robôs e realezas


Pelo que tenho visto e ouvido, a batalha final da política brasileira não será entre arremessadores de pedras e ovos nem entre portadores de foices e martelos, mas, sim, entre robôs. Todo dia, tem notícia sobre robôs cibernéticos que propagam falsidades, tanto para promover seus preferidos quanto para destruir inimigos.

Pior: não são máquinas com formato humano, como aqueles simpáticos bonequinhos japoneses ou monstruosos transformers de filme, que poderíamos facilmente identificar e ao menos tentar fugir deles. Os novos e ameaçadores vilões disfarçam-se de algoritmos, aquelas equações incompreensíveis para os mortais comuns, que servem para solucionar alguns problemas e criar outros ainda maiores.

São cada vez mais frequentes os alertas sobre as armadilhas das redes sociais, que parecem operar como os dementadores de Harry Potter. Oferecem-nos a maçã envenenada do acesso fácil e da comunicação plena apenas para sugar nossos dados, nossos pensamentos e a nossa vontade.

E, em breve, também o nosso voto. Já estou ficando preocupado. Do jeito que está indo a coisa, vou acabar votando sem querer em alguma mistura de mal com atraso e pitadas de psicopatia.

Vade retro, Zuckerberg!

A rainha ganhava menos do que o príncipe. Foi um escândalo quando os produtores da premiada série The Crown, que conta a história de Elizabeth II, da Inglaterra, revelaram que o salário da atriz Claire Foy, intérprete da soberana, era menor do que o de Matt Smith, ator que faz o papel do príncipe Phillip, marido da monarca.

A patrulha das redes sociais partiu com tudo para cima do ator, exigindo que ele doasse a diferença salarial para uma organização que combate abusos sexuais. Porém, os responsáveis pelo filme saíram em defesa dos seus artistas, assumindo a responsabilidade pela disparidade salarial e garantindo que um nem sequer conhecia o salário do outro. Antes de pedirem desculpas, ainda lembraram que a discrepância não se deu por motivos de gênero, mas porque Smith era mais famoso quando foi contratado.

Ainda assim, em tempos de igualdade de gênero, a escorregadela escancarou a histórica discriminação profissional das mulheres em relação aos seus companheiros de trabalho. E, para quem acompanha a série - como este escriba, cativado pelo olhar azul e pela interpretação magnífica de Claire Foy nos 20 capítulos das duas primeiras temporadas -, a injustiça ficou ainda mais evidente. Mas a única culpa do príncipe, ao menos nesse episódio, foi ter nascido homem.

Nobres ou plebeus, carregamos esse pecado original determinado por milênios de cultura machista. Podemos até alegar inocência, mas não podemos ignorar que sempre foi e que continua sendo assim. Com raras exceções, os homens continuam no comando das empresas, das instituições públicas, dos governos, do mundo. Como mudar isso? Confesso que não sei, mas espero que seja pela cumplicidade e não pela animosidade.

NÍLSON SOUZA