terça-feira, 13 de março de 2018


13 DE MARÇO DE 2018
ARTIGO

AMAR O CAIS


Como não amar e valorizar a orla de Porto Alegre? Amar o cais significa sabê-lo bonito, simbólico, precioso. É área histórica nobre, no encontro da cidade com águas que lhe deram origem, vida, peixe, desporto, visitas, imagens artísticas, desenvolvimento e lazer. Quem ama o cais quer vê-lo livre da degradação, das ideias inadequadas e de erros que retardem seu retorno, renovado, para a vida social de Porto Alegre. Amar é diferente de cobiçar sem pudor e de tratá-lo como território de libertinagem privada. Amar é querer o melhor, zelar e manter sempre bons pensamentos.

O périplo de licenciamentos foi marcado pela morosidade de um empreendedor sem o capital exigido, sem qualidade técnica e sem relações sociais, exceto com agentes públicos muito suspeitos. O governador, o prefeito e a ex-governadora faltam com a verdade ao acusar "minorias" "contrárias ao desenvolvimento" pelo atraso nas obras. 100% falso. O civismo de quem zela pelo cais não atrasou um minuto sequer o início das obras. Ademais, o empreendedor fugiu do diálogo, para impor ideias ruins, apoiado por opinadores avessos ao sentido construtivo do debate e da política.

A principal ameaça tem sido impor à cidade um camelódromo junto à área dos galpões tombados. Há diretrizes do Iphan para a harmonização do projeto ao patrimônio histórico, e estas - e o bom gosto - colidem com a cobiça de quem só quer faturar alto e fácil com o loteamento de lojinhas e estacionamentos. Que tal Sydney com sua Opera House, New York com sua Highline e Porto Alegre com um camelódromo em sua mais nobre área?

O novo titular do empreendimento, que ora inicia obras, parece haver compreendido dois fatos elementares. Primeiramente, que aquela proposta simplória pode ser substituída por algo contemporâneo, bonito e eficiente, com menor custo. Segundo, que o diálogo com quem quer e pode colaborar dá vida e força à realização do projeto. Os cidadãos que persistem por anos zelando pelo cais saúdam esses sinais positivos. Quem sabe agora, livres de achaques e de gestores sem qualidade, não podemos construir o melhor dos cenários na área que amamos - o cais do porto?

FRANCISCO MARSHALL, PROFESSOR TITULAR DA UFRGS E VICE-PRESIDENTE DA AMACAIS - ASSOCIAÇÃO DE AMIGOS DO CAIS DO PORTO