06 DE NOVEMBRO DE 2018
LUÍS AUGUSTO FISCHER
OPINIÃO PÚBLICA
"A opinião pública é débil mental", disse e repetiu Nelson Rodrigues em uma de suas caricaturas. E exemplificou: a opinião pública manda soltar Barrabás e prender Jesus Cristo.
De fato, ela é instável, vira e revira, pode ser manipulada; mas sem ela não temos sociedade democrática.
A opinião pública brasileira está seriamente doente. Bolsonaro é um sabotador notório: não debate, não dá entrevista com possibilidade de ser acossado por pergunta incômoda, e quando fala, fala sozinho, pelas redes ditas sociais. Não raro, fala para chocar, dizendo ali sua verdade espontânea, e depois remenda o dito, num movimento errático que é inimigo do esclarecimento.
Opinião pública no mundo moderno nasce com, e ajuda a forjar, o Iluminismo. É filha direta e dileta do Jornalismo e de instituições estruturantes como o Parlamento, a Lei Impessoal, a Escola, as Artes, a Liberdade. Opinião pública é um tumulto de vozes na arena coletiva, que em sua expressão acaba encontrando veios, correntes, caminhos para a formação de convicções e sensibilidades. Quando controla o voluntarismo e se pauta pelo desejo de esclarecimento, a opinião pública tende a acertar.
O presidente eleito ataca o Jornalismo o tempo todo, de modo evidente, mas Sartori, o derrotado local, foi outro inimigo do esclarecimento. Entre as várias demonstrações desse desapreço, lembro duas: perguntado sobre o piso salarial dos professores, essa categoria sofrida e essencial, fez piada grosseira.
Pisotear os oprimidos é horrível, mas igualmente perverso é fazer galhofa da pergunta, que buscava o esclarecimento. A outra foi sua recusa irrecorrível de abrir conversa com fatias da sociedade articulada, como por ocasião da indefensável extinção das fundações públicas de pesquisa e comunicação. Sartori não se dignou sequer a receber a Carta Aberta assinada por cientistas e intelectuais de peso, como Cláudio Accurso, Ivan Izquierdo, Hélgio Trindade e Márcia Barbosa.
Pisotear os oprimidos é horrível, mas igualmente perverso é fazer galhofa da pergunta, que buscava o esclarecimento. A outra foi sua recusa irrecorrível de abrir conversa com fatias da sociedade articulada, como por ocasião da indefensável extinção das fundações públicas de pesquisa e comunicação. Sartori não se dignou sequer a receber a Carta Aberta assinada por cientistas e intelectuais de peso, como Cláudio Accurso, Ivan Izquierdo, Hélgio Trindade e Márcia Barbosa.
Faço fé que o novo governador, Eduardo Leite, honre sua trajetória de sujeito de diálogo, tanto quanto não espero isso de Bolsonaro, com seus amigos obscurantistas. A luta pela sobrevivência da opinião pública não pode arrefecer.
PS: Vai aqui um abraço remoto para o Duca Leindecker. Músico e escritor, marido da Manuela D?Ávila, ele tem se mostrado um homem de altíssima qualidade moral, que teve atividades pessoais e agendas de trabalho canceladas por preconceito. Devemos saudar o empoderamento feminino tão bem expresso na candidatura dela, que protagonizou palanques e debates, enquanto o artista Duca, líder de sua banda acostumado à berlinda, ficava na retaguarda, fora das luzes. Lindo isso.
LUÍS AUGUSTO FISCHER
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