sexta-feira, 16 de novembro de 2018


Dia da República 

Quinta-feira foi o dia de comemoração da Proclamação da República. Muitos estão contentes com as últimas eleições republicanas, outros nem tanto. Normal. É a democracia, a vida, a mensagem das urnas, a alternância do poder e a expectativa de evolução. Não é fácil, nunca foi, nem vai ser. As oposições cumprirão seu democrático papel, de olho nos atos dos novos governantes e focadas nas próximas eleições. Normal. Tomara que todos, situação e oposições, tenham boa fé e pensem no que é melhor para o País e não apenas no que interessa mais para grupos, partidos e pessoas. 

Os cidadãos brasileiros agradecem. Melhor desejar e esperar que o bom senso prevaleça, que o nível do debate não seja do tipo aquele de banheiro de boteco de quinta categoria. Baixar o nível e provocar divisões deletérias ao fim e ao cabo não interessam a ninguém e muito menos ao Brasil. Talvez interesse a algum estrangeiro. Precisamos conservar nossas tradições republicanas de resolver as divergências com base em diálogos e ações pacíficos. 

Há quem diga que a sociedade brasileira já foi mais calma. De certa forma é verdade, mas se os líderes não souberem ouvir e atender os reclamos sociais, aí realmente a violência vai passar, ainda mais, das redes sociais para as calçadas, ruas e praças. Deus ajude que não. A partir do presidente da República, exemplo máximo e nacional de comportamento para todos, até o mais simples cidadão e trabalhador, todos devemos tentar dialogar da melhor forma possível, buscando o que for melhor. 

Passadas as eleições, terminados os arroubos de campanha, a retórica incendiária e os exageros de costume, é hora de baixar a bola, colocá-la no centro do campo e recomeçar o jogo. O jogo democrático, republicano, sem bola de propina. Tomara que a economia se descole o quanto possível da má política e tomara que as micro, médias e pequenas empresas mereçam bastante atenção, elas que fornecem em torno dos 90% dos empregos em nosso País. 

Os 13 milhões de desempregados agradecerão muito. Sei que não estou dizendo grandes ou pequenas novidades, mas também acho que não devemos cultivar utopias ultrapassadas e nem achar, com pessimismo, que o futuro é uma terrível distopia. Que entrem em férias os apocalípticos de plantão e os arautos do caos. Precisamos de convívio sereno, harmonioso e capaz de propiciar um futuro melhor para nossos filhos, netos e bisnetos. No primeiro dia de aula das faculdades de Direito, o estudante aprende o milenar brocardo de Ulpiano, do Corpus Iuris Civilis: "ubi homo societas, ibi societas, ibi jus". 

Em bom português: Onde está o homem, há sociedade; onde existe sociedade há Direito. Nenhuma sociedade se desenvolve sem um mínimo de ordem, segurança e paz social. Isso é mais velho que andar a pé ou que a Sé de Braga, mas segue válido. Há milênios a democracia vai se reinventando e não há fórmulas definitivas e acabadas, não custa lembrar. Não custa lembrar que a democracia é o sistema político menos pior e que devemos, realisticamente, seguir aprimorando o que está aí. 

A propósito...

Hoje com as redes sociais temos todos um divã, uma poltrona de psicoterapeuta como tribuna livre para falar tudo, toda hora, sem limites. É bom desabafar, pôr para fora. O problema é o que fazer com tantos tarros abertos e sem um psicoterapeuta coordenando a "terapia de grupo" geral e liberada. É complicado. Melhor pensar um pouco antes de soltar o verbo. 

Melhor tentar agredir, ofender e brigar o mínimo. Somos demasiadamente humanos, estamos nos achando, mas, pensando bem, a vida é curta, passa depressa e deve ser maior do que essas discussões chatas e estéreis. Discussões bizantinas intermináveis sobre o sexo dos anjos. Hoje em dia teria que ser sobre "os sexos" dos anjos, que a coisa anda polissexual, para ser "politicamente correto". 

Jaime Cimenti - Jornal do Comércio (https://www.jornaldocomercio.com/_conteudo/colunas/livros/2018/11/656585-vitor-necchi-e-o-nosso-tempo.html)

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