sexta-feira, 15 de outubro de 2021


15 DE OUTUBRO DE 2021
+ ECONOMIA

Por que a privatização da Petrobras entrou no radar

Sonho do liberal Paulo Guedes quando assumiu o Ministério da Economia, a privatização da Petrobras começa a ser debatida no governo Bolsonaro como possibilidade concreta. Depois de manifestações de Guedes e do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), defendendo a venda da estatal, ontem foi a vez de o presidente Jair Bolsonaro afirmar que tem "vontade de privatizar a Petrobras".

Apontou como justificativa o desgaste que vem sofrendo com o aumento dos preços dos combustíveis:

- É muito fácil: aumentou a gasolina, culpa do Bolsonaro. Eu já tenho vontade de privatizar a Petrobras. Vou ver com a equipe econômica o que a gente pode fazer.

Na véspera, em Washington, onde participa da reunião anual do FMI, Guedes havia apontado uma "alternativa" à privatização total: vender ações da Petrobras e usar o ganho para custear programas sociais. Seria uma burla à Constituição, que proíbe usar recursos de privatização em despesas correntes. Se avançar, acabará judicializada. Mas Guedes também admitiu tirar o controle da petroleira das mãos do governo, depois que Lira propôs levar a estatal para o Novo Mercado da B3, segmento no qual as companhias só podem ter ações ordinárias (com direito a voto). Deter maior número desses papéis é o que dá o controle à União.

- Não seria o caso de privatizar a Petrobras? É hora de discutir qual é a função da Petrobras no país. É distribuir dividendos? - provocou Lira.

Para Guedes, a cotação das ações da estatal "pode subir mais ainda se eu falar que vou privatizar, abrir mão do controle". O ministro propôs um formato como o da Eletrobras, que deve passar por capitalização. A menção deve provocar nos privatistas a mesma reação dos reformistas à proposta de mudanças na gestão pública: apenas parem.

Por trás do repentino interesse, está o único propulsor do governo Bolsonaro: a reeleição. A alta dos combustíveis, aditivada pelos conflitos gerados pelo próprio presidente, desgasta sua imagem. Ontem, as ações ordinárias caíram 0,17%, e as preferenciais subiram 0,17%. Um estranho espelhamento, mas nenhuma disparada.

MARTA SFREDO

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