05 DE SETEMBRO DE 2017
POLÍTICA
Professores vão a delegacia e registram BO contra Sartori
Atingidos pelo parcelamento salarial desde 2015, servidores estaduais enfrentam em setembro o mais angustiante mês desde que a crise instalou-se nas finanças do governo do Estado. Com R$ 350 depositados na quinta-feira, funcionários públicos desdobram-se, sem sucesso, para vencer as contas. Ontem pela manhã, em Porto Alegre, professores protestaram contra o menor depósito recebido desde o início do fatiamento dos contracheques.
- Se a pessoa trabalha, ao fim do mês quer receber seu salário. É uma situação humilhante - desabafou Klymeia Nobre, 45 anos, agente educacional da escola José do Patrocínio, na Restinga.
Mais de 70 servidores de 36 colégios estaduais participaram da manifestação. Na 2ª Delegacia de Polícia de Pronto Atendimento (DPPA), o grupo registrou boletim de ocorrência contra o governador José Ivo Sartori por desobediência, ao descumprir a Constituição Estadual e parcelar a folha de pagamentos.
Em meio aos professores, os relatos dimensionavam o impacto do pagamento dos salários a conta-gotas. Entre eles, o de Alexandra Amarante, 31 anos, professora na escola Professores Langendonck, no bairro Guarujá, que começou a trabalhar como manicure aos finais de semana para pagar a gasolina gasta para chegar ao trabalho. Com o serviço, diz garantir um extra de R$ 50 por semana.
- Nunca fui profissional, mas estou atendendo algumas clientes. Está me ajudando ao menos no transporte para ir até a escola trabalhar - contou Alexandra, que relatou mal ter conseguido liquidar as contas de luz, água e medicamentos.
ASSEMBLEIA PARA AVALIAR PARALISAÇÃO DO MAGISTÉRIO
A vice-diretora do colégio Emílio Massot, na Cidade Baixa, Neiva Lazzarotto, 53 anos, também enfrenta cenário crítico. No limite do crédito, parcelou a conta do condomínio e, nos últimos meses, pediu dinheiro emprestado para familiares em quatro ocasiões.
- Meus pais, aposentados, estão me ajudando. É uma solidariedade, mas também uma situação muito cruel comigo e com eles - disse Neiva.
O boletim de ocorrência registrado contra o governo cita a decisão judicial que determina o pagamento integral dos salários dos professores da rede estadual. "Embora a decisão judicial, reiteradamente o Estado do Rio Grande do Sul vem descumprindo a ordem judicial", sublinha a queixa. O documento policial foi encaminhado para o Departamento Judicial Operacional da Polícia Civil. Segundo o Cpers, professores do Interior repetiram o gesto simbólico.
Hoje, o sindicato realiza assembleia geral no Largo Glênio Peres, no centro de Porto Alegre. Os dirigentes devem discutir se a entidade ingressa com ação contra o governo do Estado e se haverá greve.
debora.ely@zerohora.com.br