03 DE NOVEMBRO DE 2017
ARTIGOS
ENEM: PARADOXO ENTRE TEORIA E PRÁTICA
Via Facebook, recebi uma imagem que mostrava uma pata, representando uma professora, entregando a um peixe, representando a mãe de um aluno, a avaliação do filho, que havia zerado. Tal cena, intertextualizada com outra que recebi há alguns dias e que mostrava vários animais, desde um elefante até uma cobra, tendo que provar suas capacidades através da escalada de uma árvore, suscitou, em mim, uma série de reflexões sobre as incoerências que permeiam o sistema educacional brasileiro.
A Lei de Diretrizes e Bases, documento que norteia a educação em todo o território brasileiro, elaborada no período entre 1988 e 1996, assegura o padrão de qualidade do ensino, a elaboração de propostas curriculares nacionais e regionais, a autonomia para as escolas e professores e que competências e habilidades do aluno sejam pautadas na interdisciplinaridade e contextualização. Contudo, 21 anos após a elaboração da lei, esses preceitos constituem um aglomerado conceitual mais fácil de ser debatido do que de ser executado e, ao filho do peixe, continua sendo solicitado que grasne para que possa ser aprovado.
Maior exemplo do paradoxo entre teoria e prática é o Enem. Neste e no próximo domingo, 7,6 milhões de alunos - 294.591 gaúchos - responderão às 180 questões que avaliarão, de maneira uniforme, suas trajetórias escolares e que serão a porta de acesso ao Ensino Superior gratuito.
Ou seja, a última avaliação da educação básica derruba todos os preceitos educacionais difundidos pela própria União e avalia, sob uma mesma ótica, o aluno que estudou desde criança na escola com o maior Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) do país e o aluno que precisou trabalhar durante o dia e, à noite, estudou em uma escola mal iluminada, sem material didático adequado e, não raramente, com falta de professores.
Como equacionar essa dicotomia? Talvez a universalização do acesso ao Ensino Superior seja uma opção, alicerçada por uma educação básica qualitativa, capaz de possibilitar a cada educando seu desenvolvimento integral, previsto em lei, mas cada vez mais distante da realidade.
Professora estadual, graduada em Letras seduc.giselerocha@gmail.com
GISELE DA ROCHA