quinta-feira, 9 de novembro de 2017



07 DE NOVEMBRO DE 2017
LUÍS AUGUSTO FISCHER

VALESCA NA FEIRA

Entra a Valesca de Assis como patrona, sucedendo à Cíntia Moscovich, que legal. Simbolicamente, por serem duas escritoras, mas também especificamente, porque são duas figuras dedicadas ao mundo das letras e dos livros, reconhecidas e atuantes. Parabéns, Valesca!

A nova patrona deve estar agora naquela pequena onda de notoriedade que para um escritor é sempre estranha: quem escreve está sozinho, por definição. Está mergulhado em si e em suas leituras e anotações, cavoucando em sua linguagem para dizer coisas, contar cenas, expressar estados de espírito, comover, aborrecer, convocar, relaxar - e o leitor lá, na dele, sem saber que em outro ponto do planeta, exatamente agora, tem um maluco, uma maluca, muitos deles, de nós, fazendo essa força peculiar que resulta em textos escritos.

Quando fui patrono, quatro anos atrás, experimentei isso tudo. Ser patrono faz coabitarem na gente duas forças antagônicas: uma de alegria, pelo sorriso gratuito, pelo cumprimento enfático, pelo autógrafo solicitado no meio do caminho, alegria mesmo, genuína, satisfação por ter encontrado o leitor que a gente sempre espera e, ao contrário da frase antiga, nem sempre alcança; e outra de susto, pelos mesmos gestos de aproximação, só que lidos ao revés - será que isso é isso mesmo, um leitor, uma alma solidária, um irmão extraviado? -, susto que acrescenta à dúvida o veneno-remédio do apreço pela solidão, tão necessária para o escritor quanto o editor, o gráfico, o livreiro e o leitor.

Hoje, às 16h, uma das grandes novidades desta Feira: o lançamento do primeiro volume do Teatro de João Simões Lopes Neto, pelo IEL e editora Zouk, em edição crítica. Quem fez o estabelecimento de texto, as notas e tudo o mais foi uma dupla de alta qualidade, o João Luís Ourique e o Luís Rubira, professores da Federal de Pelotas. Houve uma edição do teatro do grande pelotense anos atrás, numa iniciativa meritória de Cláudio Heemann, mas, como era esperável, com muitos problemas, omissões e mesmo equívocos. O Ourique e o Rubira se beneficiaram da consolidação de pesquisas e com seu empenho colocam a conversa num patamar mais sólido, apresentando até mesmo textos inéditos.

LUÍS AUGUSTO FISCHER