sexta-feira, 3 de novembro de 2017



03 DE NOVEMBRO DE 2017
FEIRA DO LIVRO

"Os transgêneros são, talvez, a minoria mais vulnerável

O norueguês Dag Øistein Endsjø estará na Feira do Livro neste final de semana para apresentar Sexo e Religião - Do Baile das Virgens ao Sexo Sagrado Homossexual (Geração Editorial, 376 páginas, R$ 65). O volume é resultado de longa pesquisa sobre o tema nas grandes tradições religiosas - cristianismo, judaísmo, hinduísmo, islamismo e budismo.

Dag Øistein Endsjø é um dos convidados da programação especial da Feira dedicada aos escritores da Escandinávia, que inclui autores da Suécia, da Dinamarca, da Noruega e da Finlândia. Ele participa de um bate-papo hoje, às 15h, no Auditório Barbosa Lessa do Centro Cultural CEEE Erico Verissimo (Rua dos Andradas, 1.223). Por e-mail, Endsjø conversou com ZH.

No Brasil, há o crescimento de uma direita conservadora, que tem ganhado espaço advogando uma função moralizadora. O senhor acredita que a moral cristã está sendo usada como uma ferramenta política para ganhar corações e mentes de votantes em diferentes países?

O maior desafio representado pela direita cristã é que muitos de seus quadros tentam impor suas concepções religiosas sobre todos, especialmente quando o assunto é sexo, gênero, orientação sexual e identidade de gênero. Isso é altamente problemático porque viola a liberdade de expressão, o direito à privacidade e, além disso, a liberdade de religião, que também inclui o direito de não ser forçado a viver de acordo com as crenças religiosas dos outros. 

No que diz respeito a questões específicas de identidade de gênero, esses conservadores cristãos não só expressam sua própria desaprovação das minorias de gênero, mas também miram contra um grupo vulnerável. Como as sociedades geralmente são preconceituosas contra algum grupo, as pessoas transgêneros estão agora particularmente vulneráveis, já que não é mais possível vender ódio contra gays ou minorias étnicas ou religiosas como era há algum tempo.

A Áustria proibiu o uso de véu islâmico em lugares públicos. É o oitavo país da Europa a legislar sobre o tema. Como o senhor avalia esse tipo de atitude?

É sempre problemático quando os países miram determinadas minorias religiosas ou sociais, restringindo atividades que não prejudicam ninguém. Considerando que a França certamente tem razão em proibir as pessoas de forçar membros da família e outros a usar véu, é igualmente problemático forçá-las a removerem os véus contra sua vontade. Por princípio, assim como os LGBT devem ter liberdade para viverem suas vidas, e as pessoas possam ser livres para se vestirem com pouca roupa, aqueles que sentem a necessidade de se cobrir o máximo possível, também poderiam fazê-lo.

O Brasil tem altos índices de violência contra transexuais. Por outro lado, há artistas de grande popularidade com identidade de gênero fluida. É comum essa alternância de repressão e fascínio?

Repressão e fascínio geralmente caminham juntos. Isso também pode ser observado no fato de que muitos dos que discriminam os LGBT não raramente estão envolvidos em sexo com pessoas do mesmo gênero ou desejam aventurar-se na sua expressão de gênero; também na forma como os LGBT perseguidos frequentemente se tornam alvo de abuso sexual, algo que as mesmas tradições religiosas que condenam as minorias sexuais e de gênero tendem a ignorar. Como os transgêneros são talvez a minoria mais vulnerável de muitos países, é importante que todos os defendamos.
ALEXANDRE LUCCHESE