16 DE AGOSTO DE 2018
PERIMETRAL
O HINO DE PORTO ALEGRE É HORRÍVEL
Porto Alegre tem muita coisa linda, mas, entre elas, definitivamente, não está seu hino. Lembrei disso ao furungar no site da Câmara, ontem à tarde, e descobrir que o vereador José Freitas (PRB) apresentou um projeto para tornar obrigatória a execução do hino da Capital, em eventos de escolas municipais, "sempre que forem executados o Hino Nacional ou o Hino Rio-Grandense".
Nada contra o vereador Freitas, sei que ele teve boa intenção: acho saudável uma comunidade valorizar seus símbolos, e é legal que seus líderes estimulem isso. Mas não se impõe um símbolo com uma lei. Ainda mais quando a coisa não tem a menor vocação para símbolo.
Nem na Câmara Municipal ouve-se o Hino de Porto Alegre - nas sessões solenes, os vereadores só escutam os hinos do Estado e do Brasil. Nos eventos da prefeitura, segundo o cerimonial do município, é a mesma coisa. Quer dizer: se nem as autoridades da cidade sujeitam-se a isso, como obrigar crianças de seis anos de idade a ouvir três hinos no mesmo evento? Coitadinhas.
Ainda mais esse Hino de Porto Alegre, que, cá entre nós, é de uma pobreza melódica, harmônica, lírica, estética, métrica, imagética, rimática e estrutural constrangedora. Convido o leitor a ouvi-lo, no link da caixinha cinza ali embaixo.
Ainda assim, eu aqui, particularmente, entendo que seria interessante as escolas municipais ensinarem o tal hino, como ensinam outros, em sala de aula. Até para as crianças saberem que, sim, Porto Alegre tem seu hino. Vai que os alunos se animem a compor um melhorzinho.
O vereador Freitas, na justificativa do projeto, faz uma comparação com o Hino Rio-Grandense. Sugere que ele só passou a ser cantado por todos porque os órgãos oficiais o divulgam. Não é verdade. Ele passou a ser cantado por todos porque é bom. Porque as pessoas se identificam. E, justamente por ser bom, tornou-se parte de uma cultura - e cultura não se faz com imposições.
Podem obrigar os estudantes a cantar o Hino de Porto Alegre 365 dias por ano. Eles vão decorá-lo, coitados, mas duvido que um dia cantem apenas porque querem. Não dá para ignorar que esse hino é uma coisa horrível.
PAULO GERMANO