28 DE AGOSTO DE 2018
OPINIÃO DA RBS
UM SÍMBOLO DO RIO GRANDE
Representação viva de tudo o que o Rio Grande do Sul tem de mais autêntico, João Carlos DÁvila Paixão Côrtes foi uma das poucas unanimidades num Estado habitualmente cindido por divergências, muitas das quais por razões menores. É significativo que esse talento múltiplo, o folclorista e compositor que descobriu as tradições gaúchas, tenha partido em tempos de Expointer, nos quais a cidade e o campo se encontram em Esteio para reverenciar algumas das mais fortes razões de orgulho dos gaúchos.
Paixão Côrtes teve sempre uma visão aberta do tradicionalismo, o que contribuiu para transformá-lo também no símbolo urbano da Capital, eleito pelos gaúchos, sob a forma da estátua em bronze O Laçador, uma referência turística.
O talento múltiplo desse pioneiro da cultura regional, que foi também ator e dançarino, ajuda a explicar o feito de ter conseguido exportar para todo o Brasil e para o mundo os centros de tradições gaúchas (CTGs). Dificilmente um turista gaúcho, em suas andanças fora do Estado, deixa de encontrar um desses símbolos de hospitalidade, nos quais estão presentes algumas de suas manifestações mais típicas - a poesia, a música, a dança, o churrasco, o chimarrão. Dentro e fora do Estado, os CTGs são hoje indissociáveis dos rio-grandenses.
Ao revalorizar a tradição, sem perder de vista o presente e o futuro, Paixão Côrtes contribuiu como ninguém mais para resgatar a autoestima dos gaúchos, afetada por crises e divisões crônicas. Juntamente com o também folclorista, escritor e seu amigo Barbosa Lessa, fez mais do que resgatar o Rio Grande.
Foi um dos responsáveis por atrair os jovens, a partir do Colégio Estadual Júlio de Castilhos, para um encontro com suas raí- zes, colocando sempre o amor pelo Rio Grande acima de outras eventuais divergências. E o fez não apenas na prática do dia a dia, mas apostando permanentemente na pesquisa, como forma de ajudar seus conterrâneos a entender melhor o seu passado e a embasar melhor o seu futuro.
O momento é de dor para familiares, amigos e admiradores, pela perda, mas também de cultuar essa espécie de lenda viva do Estado. Paixão Côrtes será lembrado sempre, principalmente nos períodos em que o Estado precisar de união para preservar essa condição pela qual ele sempre lutou: a de ser gaúcho.
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