O amor nunca foi frágil
O amor nunca deveria ter sido visto como algo frágil. A posição humana é dotada da capacidade de trocas emocionais, e o amor não é finito. É um sentimento abundante que não gera escassez.
Particularmente, discordo do conceito utilizado como “amar demais”. No meu ponto de vista não existe este lugar. O que existe são comportamentos inadequados frente a um grande amor. Nenhuma mulher ama demais. Nenhum pai (ou mãe) ama demais. Eles simplesmente amam muito e isto jamais seria perturbador. O que complica as relações amorosas são a necessidade de controle, o ciúmes, a superproteção, a baixa educação emocional, mas jamais o amor em excesso.
Amamos porque amamos. Faz parte do nosso DNA. Todas as culturas experimentam o amor. Algumas o exploram, outras não lhe permitem, outras compartilham e outras o desejam ou ignoram. Mas em nenhuma relação humana existe a falta da possibilidade do amor estar presente.
Em todos estes anos atendendo pessoas (em processos individuais) e grupos, percebo que a carência do amor esta presente na grande maioria dos dilemas. Não o amor poético, nem o amor conjugal, mas o gesto amoroso. A amorosidade entre as pessoas é a base para relações mais sadias.
Não trabalho com crianças, mas conheço os adultos que elas se tornam. E neste sentido, posso afirmar que uma criança amada conseguirá lidar melhor com as dificuldades que a vida, sem exceção, trará.
Tive, mais de uma vez, pessoas que me procuraram querendo justamente desenvolver seu lado mais amoroso e mais afetivo. Mas elas já não estavam mais lá e procuravam ajuda pois queriam poder usufruir da beleza de amor nas relações.
Acredito que isto é presente em todos. Nascemos amorosos, mas a vida pode ampliar ou sublimar estes comportamentos. Em um mundo competitivo, centrado na vaidade, no consumismo e no exibicionismo, o amor caiu no clichê raso, simples e de pouca importância.
Por outro lado, vejo um onda de novas gerações dispostas a resgatar relações mais afetivas, mais colaborativas e mais conectadas. Há a necessidade de romper com a ideia de que uma pessoa amorosa é fraca, ingênua ou incompetente. O amor não é fraqueza. E uma pessoa amorosa segue tendo o mesmo compromisso com a sua própria jornada de se manifestar, se posicionar, e não necessita aceitar o que está sendo imposto pelos outros.
Podemos amar e discordar. Podemos amar e não gostar. Podemos amar e criticar. O amor não é um sentimento excludente de algum outro. Amor é maior. É uma forma de nutrir e guiar a vida. É um exercício de olhar a si mesmo. Olhar ao outro. Ter empatia e egoísmo. Ter cumplicidade e autenticidade. Ter coragem e medo.
Desde muito cedo o amor nos é ensinado. Aprendemos que devemos amar nossos pais, nossos irmãos, nossos familiares. Desde nossas primeiras palavras, já fomos convidados a manifestar o amor. Desta forma, o amor é algo ensinado.
Não quer dizer que não tenha valor. Mas é ensinado. Somos “obrigados” a amar aquilo que nossas figuras parentais amam. E na grande maioria das culturas mundiais, ninguém ensina as crianças sobre o que elas devem odiar. E justamente por isto, na nossa base o ódio é algo mais puro do que o amor. Mas isto não é bom. Pelo menos não para mim e para todas as histórias pessoais que tive o privilégio de compartilhar.