25 DE AGOSTO DE 2018
ARTIGO
A ADVERTÊNCIA
O ideal seria escrever apenas sobre o amor, a bondade e a solidariedade. Ou sobre alegres coisas profundas e, com elas, povoar a vida. Limitar-se a isto, porém, seria não ver o que está à frente.
A pouco mais de um mês das eleições para presidente, governador e parlamentares, aí está o fétido lodaçal com que a politicalha enxovalhou a disputa política sã. Votar não é apertar botões, como diz a propaganda eleitoral oficial, nem optar pelo "nulo" ou pelo "em branco", como protesto e desencanto. Votar é ato exponencial que incide sobre nossos passos e atos futuros.
Votar é saber discernir. Somos mais importantes do que o candidato, pois lhe damos o mandato. A politiquice, porém, fez da eleição uma feira de promessas ou bravatas ocas de supermachos e a desilusão nos deixa inertes. Em vez de exigir mudanças, nos conformamos com o choque das "pesquisas", em que (junto aos "nulos e brancos") aparecem à frente os dois candidatos presidenciais envolvidos com a Justiça.
Mais do que "pesquisa", porém, foi uma advertência. O dólar disparou e a bolsa baixou, antevendo o desastre futuro se Lula da Silva e Jair Bolsonaro continuarem na ponta. O horror leva a perguntar: Lula, já condenado, e Bolsonaro, réu em dois processos no Supremo Tribunal, podem pretender nos governar?
O ministro Marco Aurélio Mello, relator dos processos, já indagou: "Quem é réu pode ser candidato? E, se eleito, pode tomar posse? Ou estaríamos em total insegurança jurídica?".
Dias atrás, lembrei aqui que Lula e Bolsonaro são iguais no tom místico e autoritário, na habilidade de nunca revelar o que são ao se esconder mais ou ocultar-se menos. Preso, um está calado. Mas o outro, nos gestos e no que diz, não estará se mostrando um pequeno Hitler, fanatizado por rancor e ódio?
A advertência está no ar. Só falta ouvi-la.
Semanas atrás, ouvi advertências de outro tipo, duras mas generosas: "Não se constrói em cima de alicerces falsos", alertou o industrial Paulo Vellinho na homenagem que lhe prestou a Associação Comercial de Porto Alegre pelo pioneirismo no ramo da refrigeração e televisores nos anos 1950 no Brasil.
"Devemos acreditar nas pessoas e na solidariedade", acentuou do alto de seus quase 91 anos. Criticou o corporativismo e o "maldito direito adquirido" e indagou:
- Onde estás, Rio Grande? Para onde vais? Destruíram a educação, o Ensino Fundamental acabou-se. Fomos exemplos de cidadãos e, hoje, onde estamos? Acabaram com o Brasil e nada se faz!
Jornalista e escritor - FLÁVIO TAVARES