sexta-feira, 31 de agosto de 2018


31 DE AGOSTO DE 2018
+ ECONOMIA

SICREDI QUER DISPUTAR MERCADOCOM GRANDES BANCOS


Fundado em Nova Petrópolis em 1902, o Banco Cooperativo Sicredi tem agências em 92% das cidades gaúchas e se expandiu para todo o Brasil. No final de 2017, lançou sua ferramenta digital, o Woop. Presidente-executivo nacional, João Tavares, diz que é uma cooperativa digital, não apenas um banco. Na era do compartilhamento, o Sicredi mantém os princípios associativistas há mais de um século, destaca Gerson Ricardo Seefeld, diretor-executivo da Central Sicredi Sul. Os dois executivos participaram, na quinta-feira, de edição especial do Fórum Respostas Capitais na Casa RBS, na Expointer, em Esteio.

O Sicredi apareceu em 10º lugar entre as instituições financeiras do Brasil. Quer lugar entre os grandes?

Tavares - A visão é de que a sociedade quer o Sicredi entre os grandes. Será do tamanho que seus associados querem. Nosso papel é viabilizar. A tecnologia não está só no meio eletrônico, está na forma de fazer gestão. Estamos evoluindo na metodologia de gestão, ao ponto de ser a maior instituição financeira em crédito para pequeno produtor. Se unir atendimento ao pequeno de forma viável, usando metodologia de gestão avançada, com suporte de tecnologia, naturalmente vamos crescer mais que o mercado. Estamos crescendo 18%, 20% ao ano, enquanto o mercado cresce 3%.

Por que o juro de um banco cooperativado é de mercado?

Seefeld - A instituição busca trabalhar com taxas justas, no sentido da eficiência, de fazer com que o associado tenha soluções, crédito para o seu negócio. Não fazemos assistencialismo. Precisa ter viabilidade, capacidade de investimento em tecnologia, atualização, estrutura patrimonial para atender às exigências do Banco Central. Tavares - Se a taxa paga ficou acima do ponto de equilíbrio, no final do ano há distribuição das sobras, que é o resultado, o dividendo da cooperativa. No cooperativismo, quando faz empréstimo e paga, parte do valor da taxa volta como sobra no final do ano.

A concentração no sistema financeiro afeta o Sicredi?

Tavares - Tem duas formas de se encarar, como vítima ou como protagonista. Encaramos como protagonistas. Se atender meu associado como um banco, vou ser um banquinho. Achamos um nicho de trabalho. Nunca fomos vítima de ação dos grandes bancos que nos tirasse a liberdade. É importante alertar que há operações no Brasil, principalmente no agro, aproveitando que estamos na Expointer, dedicadas somente aos bancos oficiais. Isso limita muito a competitividade. A abertura está ocorrendo, há o movimento das fintechs que tentam desintermediar o negócio bancário. Vão sobrar as instituições financeiras que tiverem algo a oferecer.

O que diferencia a política de crédito de banco e de cooperativa?

Seefeld - Em uma cooperativa, o crédito é formatado e estruturado para atender ao associado. É customizado para as demandas locais. Também há preocupação de formatar e direcional o crédito para que possamos promover desenvolvimento local. Temos trabalhado muito o crédito responsável, a educação financeira, que complementa e leva conhecimento para as pessoas fazerem bom uso de crédito. O Sicredi está presente em 454 municípios dos 497 do Estado. Está em 92% dos municípios, com presença física. Essa é uma grande fortaleza, um compromisso que temos com as pessoas, as comunidades, enquanto as instituições financeiras tradicionais olham os cifrões. Existem critérios técnicos de avaliação de perfil, de relacionamento. Não diria que a exigência de garantias é igual à de um banco. Temos um modelo interno de avaliação de risco.

A inadimplência pesou, como em todo o sistema?

Tavares - O Sicredi tem tradição de inadimplência baixa. Hoje, menos de 2%. Durante a crise, passou de 3%, mas ficou abaixo da média. O pulo da gato é o trabalho que faz com que a gente saia do risco muito rápido. Só que tem custo operacional alto. Internalizamos parte do conhecimento de sistemas e hoje, metade da decisão de crédito é automatizada. Isso permitiu evitar um pico de inadimplência.

A presença em 92% dos municípios gaúchos é sustentável?

Seefeld - Temos procurado estar presentes nas comunidades e, ao mesmo tempo, ajustar as estruturas de atendimento, sempre de olho na viabilidade econômica. Toda agência tem de ter viabilidade, não somos entidade assistencialista. O associado cobra no final do ano, na assembleia, que a unidade do município tenha resultado, que essa agência contribua.

O quanto preocupam os frequentes assaltos no Interior?

Seefeld - Temos feito investimento contínuos e frequentes e preparando infraestrutura. Temos monitoramento 24 horas por dia, sete dias por semana. Temos também o compromisso de fazer com que a Brigada Militar fique no município. Não somos imunes ao problema, mas estamos conseguindo minimizar. Também fazemos conscientização para as pessoas utilizem mais os meios eletrônicos para pagar contas e fazer operações bancárias.

O que o Sicredi foi buscar no Tecnopuc?

Tavares - Temos 200 pessoas lá. Para poder estar em tantos municípios, precisamos ter tecnologia atual, que sai caro. Como toda instituição financeiro do país, temos sistema modernos e antigos. Nossa plataforma digital de cooperativismo, o Woop, não é um banco digital. É uma cooperativa digital. Abre a conta com foto dos documentos, leva sete minutos para abrir a conta. Tem atendimento por chat, tudo o que as pessoas gostam, mas tem educação financeira como adicional. O mais interessante, ao se aproximar desse ecossistema, é que estamos revendo a forma de administrar a empresa.

O futuro dos negócios financeiros passa mesmo pelo blockchain (sistema de registro de criptomoedas)?

Tavares - Um dos custos altos é o de registro. O blockchain elimina esse custo. Estamos nos aproximando do ecossistema do Banco Central. A intenção é criar uma comunidade para melhorar todas as operações. É uma tendência que veio para ficar. Não operamos com criptomoedas.

Como o Sicredi vê as fintechs?

Tavares - Lutar contra as fintechs é um esforço inútil. É incorporar. É como lutar contra a internet. O que tem de construir é um ecossistema. O segundo mercado que usa mais startup no Brasil é o mercado de agronegócio. Então está em todos os mercados, não podemos ficar fora disso.

MARTA SFREDO