13 DE AGOSTO DE 2018
EDITORIAL
DISTORÇÃO NO ENSINO
Num ano de campanha eleitoral, o elevado descompasso entre idade e série nas escolas gaúchas precisa se constituir em tema obrigatório. Mudar esse quadro é precondição para o Estado sair da crise
Das três dimensões levadas em conta no Índice de Desenvolvimento Estadual-RS (iRS), divulgado na última semana, a que mais vem se distanciando na comparação com os demais Estados é a educação. A causa é plenamente identificável, o que suscita razões para se questionar o fato de o retrocesso não ter sido enfrentado antes, e ao mesmo tempo continua facilitando ações para revertê-lo, mesmo tardiamente: a elevada taxa de distorção idade-série dos alunos em sala de aula.
Preocupante em qualquer etapa, o percentual inquieta ainda mais no Ensino Médio gaúcho, pois é decisivo para fazer com que o Estado, até recentemente apontado como exemplo em educação de qualidade no país, situe-se hoje abaixo da média nacional nessa área. Em 2016, ano tomado como referência pelo fato de os dados estarem disponíveis em todas as unidades da federação, nada menos de 30,6% dos alunos no Rio Grande do Sul tinham idade acima da considerada ideal para as turmas nas quais estavam matriculados. O percentual é inconcebível.
A crise do setor público gaúcho está entre as razões dessa deformação no ensino. Ao mesmo tempo, o Estado dificilmente conseguirá superar as adversidades atuais sem enfrentar uma situação na qual uma parcela expressiva de alunos não é alfabetizada na idade adequada. Na prática, esse aluno passa a enfrentar dificuldades continua- das para avançar na escola, por não conseguir assimilar satisfatoriamente os conteúdos. Em consequência, chega ao Ensino Médio com idade muito acima da esperada, o que tende a fazê-lo se sentir desconfortável entre os colegas.
O desemprego dos pais e a necessidade de muitos filhos terem que começar a trabalhar mais cedo se somam a essas razões, fazendo com que um número expressivo de alunos acabe abandonando os estudos antes do tempo, ou a concluí-los sem um nível satisfatório de aprendizado. A situação, apontada em todas as pesquisas de avaliação, ainda não foi suficiente para apressar uma reação no setor público entre os responsáveis pela política educacional.
O mau desempenho na área educacional explica o fato de o Rio Grande do Sul ter caído da quarta posição, que ocupava em 2007, para a 11ª entre as 27 unidades da federação em 2016, no ranking resultante de parceria entre Zero Hora e PUCRS, com o apoio institucional da Celulose Rio Grandense. Num ano de campanha eleitoral, o elevado descompasso entre idade e série nas escolas gaúchas precisa se constituir em tema obrigatório. Mudar esse quadro é precondição para o Estado sair da crise.