quinta-feira, 1 de agosto de 2024


01 de Agosto de 2024
EDITORIAL

EDITORIAL

O lado em que o Brasil deve estar

O governo Luiz Inácio Lula da Silva deve uma posição clara sobre a eleição presidencial da Venezuela. É preciso que diga logo se está ao lado dos valores democráticos ou explicite as razões que vê para arbítrios cometidos por ditaduras de esquerda serem tolerados. Os indícios de farsa no pleito que oficialmente deu novo mandato ao autocrata Nicolás Maduro são abundantes.

Até aqui há dubiedade do Palácio do Planalto. Mesmo que o Itamaraty e o próprio Lula tenham referido a necessidade da divulgação das atas de votação, para que se possa conferir a informação divulgada pelo Conselho Nacional Eleitoral, o presidente brasileiro deu na terça-feira uma declaração desastrosa ao avaliar que o quadro na Venezuela seria de normalidade e a oposição poderia recorrer ao judiciário se considerasse a existência de fraude. Como se a justiça no país vizinho fosse um poder independente, e não controlada pelo regime, como de fato é. Além de minimizar os sinais gritantes de irregularidades, Lula ignorou as expulsões de representações diplomáticas, as centenas de prisões de adversários políticos e as mortes após a eclosão de manifestações.

A hesitação colide com o entendimento da esmagadora maioria das nações em que há respeito ao Estado democrático de direito e com a avaliação de observadores internacionais. É mais um episódio em que a política externa do atual governo põe o Brasil na contramão das principais democracias. Vem sendo assim nas manifestações sobre a invasão da Ucrânia pela Rússia, igualando agressor e agredido. Repetiu-se com a condescendência com o grupo terrorista Hamas, após o ataque sem precedentes a Israel no ano passado.

Ao contrário de vacilações anteriores, o Itamaraty emitiu nota ontem em que "condena veementemente" o assassinato líder do Hamas, Ismail Haniyeh, em Teerã, capital do Irã. Trata-se do principal chefe de extremistas que não titubeiam em matar quem quer que seja para alcançar seus objetivos. Não há registro de condenações de países democráticos à eliminação do terrorista Osama bin Laden, pelos EUA, em 2011, no Paquistão. Haniyeh estava em Teerã para a posse do novo presidente do Irã. O vice-presidente Geraldo Alckmin foi enviado à cerimônia, no país que é o grande financiador do Hamas. Um constrangimento para um democrata como Alckmin e para o Brasil.

De volta à crise na América do Sul, convém lembrar que uma democracia autêntica pressupõe eleições competitivas, alternância de governos, poderes independentes, liberdade de expressão e de imprensa e respeito aos direitos humanos. Nada disso existe na Venezuela, que há um quarto de século está sob o tacão opressor do chavismo. O resultado até aqui foi a disparada da miséria e 7 milhões de refugiados.

Um dos motes da campanha de Lula foi alertar para o risco de uma ruptura institucional no Brasil. Teria sido um embuste? Na verdade, Lula considera que ditaduras amigas são aceitáveis? Chega o momento de o presidente decidir se permanecerá aferrado a um pensamento ideológico decrépito e envergonhará os brasileiros ou vai corrigir o rumo e alinhar o país à defesa dos princípios democráticos. 

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