sábado, 24 de agosto de 2024


24 de Agosto de 2024
CONHECIMENTO

CONHECIMENTO

Conjunto de livros com informações sobre diferentes áreas do saber marcou gerações antes da internet ou quando a rede ainda estava disponível apenas para poucos. Leia histórias de pessoas que ainda preservam sua coleção, seja pelo valor sentimental, seja pela confiança na fonte

Os exemplos demonstram a importância da coleção para uma sociedade na qual a internet inexistia ou estava disponível para poucos. É um material decisivo para a formação intelectual, estudos e escolha da profissão, diz quem teve acesso à Barsa. Em meio ao avanço de telas, há os que guardam os volumes, seja por nostalgia, apego ao papel ou pela confiabilidade do conteúdo da coleção, que completa 60 anos em 2024.

A primeira versão da Barsa foi publicada em 1964. O nome é uma referência à empresária Dorita Barret ("Bar") e a Alfredo de Almeida Sá ("Sa"), diplomata brasileiro. O objetivo do negócio era fazer o país ter uma coleção similar à Enciclopédia Britânica, tradicional publicação criada na Escócia em 1768 - Dorita era presidente da coleção no Brasil. Nos anos 1960, ela decidiu não traduzir a enciclopédia europeia para o português, e sim criar a própria, batizada de Barsa.

Pagamento em prestações

Segundo Pedro Terres, pesquisador da Universidade Estadual de Campinas, uma coleção vendida em 1964, ano do lançamento, poderia custar até R$ 14 mil em valores atualizados. Terres pondera que o preço flutuou com o passar das décadas e o momento econômico do país.

- Não era uma coleção acessível para toda a população. Por isso, em muitos casos, pagava-se em prestações. Nos primeiros anos após o lançamento, a enciclopédia se transformou em um item de luxo e desejo. Tinha a estratégia comercial de mostrá-la não como um gasto, mas como um investimento na vida dos filhos - pontua. _

- Gosto muito de livros físicos, acho que nada vai substituí-los. A enciclopédia é algo que tem um valor sentimental, não pretendo me desfazer da coleção, porque ela fez parte da minha formação e da minha história - pontua.

Maira Maciel, 60 anos, dividia a Barsa com outros irmãos e primos em Osório, no Litoral Norte. Segundo a arquiteta, a coleção comprada na década de 1960 seria descartada durante a demolição da casa dos pais. Eles decidiram ficar com os exemplares e transformá-los em um mesa lateral, dotada de rodízios e coberta por um vidro.

- O volume escolhido era aberto sobre a mesa da cozinha, sob a supervisão do meu pai, que tinha ciúmes dos seus livros. Era utilizada para consultas, para ganhar autoridade em discussões que envolviam conhecimento e nos servia para as pesquisas escolares - conta.

A Barsa entrou na vida de Andrea Stobbe, 52 anos, pelas mãos de um vendedor, que oferecia a coleção de porta em porta em Passo Fundo, no norte gaúcho. Comprados na década 1980, os exemplares foram utilizados pela advogada e por outros dois irmãos na rotina escolar nos anos seguintes. Advogada criminal, Andrea diz ainda utilizar a coleção no trabalho: a imensidade do conhecimento ajuda a "criar links" entre épocas e assuntos.

- Um exemplo que utilizo nos júris é a confissão mediante tortura. Cito a enciclopédia trazendo a inquisição espanhola e a ira de Tomás de Torquemada, que autorizou a tortura para obter evidências, caso o acusado se recusasse a confessar. Conto a história desse inquisidor e os modos modernos de tortura. Isso aproxima o jurado do caso concreto - cita a advogada. _

O conjunto pesa 25 quilos e custa R$ 2.695 no site da empresa. Outra versão, chamada Barsa Temática, dedica cada livro a uma área, além de um guia de profissão. Custa R$ 1.715.

As coleções vendidas na internet têm preços diversos. A mais cara disponível no Mercado Livre no dia da redação desta reportagem custava R$ 850. Trata-se de uma edição com 21 volumes publicada em 1964. As unidades custavam a partir de R$ 20.

Peter Dullius, proprietário do Beco dos Livros, diz ter três coleções Barsa à venda. Segundo ele, a demanda maior é de gente que quer vender a enciclopédia.

- Os compradores são muito raros. Somente casos de quem não pôde comprar à época e por saudosismo compra hoje. São pessoas de mais de 60 anos e famílias com filhos em idade escolar que procuram ajudar na educação e instrução em função das escolas não terem boas bibliotecas e o ensino estar muito ligado aos meios eletrônicos - afirma. _

Vinicius Coimbra

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