terça-feira, 13 de agosto de 2024


13 de Agosto de 2024
NÍLSON SOUZA

A ansiedade e a realidade

Dia desses resolvi ver Divertida Mente 2 para conhecer melhor a representação cinematográfica do sentimento predominante dessa nossa Era Digital, a malfadada Ansiedade. Na tela grande, com olhos enormes, cabelos espetados e boca de gamela, o monstrinho laranja causa estragos. No nosso cotidiano, muitas vezes invisível para os olhos, mas quase sempre danoso para o cérebro, pode ser ainda mais predatório.

Tive um exemplo prático no próprio cinema. Como se trata de uma animação da Disney/Pixar, muita gente imagina que é um filme para crianças. Não é. É sobre crianças. Mais especificamente, no caso desta continuação, sobre a passagem da infância para a adolescência. Mas as famílias levam crianças pequenas para ver o desenho, magistralmente elaborado para simular as emoções existentes no cérebro de uma menina. Até aí tudo bem, são figurinhas marcantes e engraçadas.

Pois na fileira de poltronas atrás da minha havia uma família com crianças pequenas. Um menininho de quatro ou cinco anos passou o filme inteiro chutando minha cadeira - o que, com sinceridade, não chegou a me incomodar, mas me fez pensar que a ansiedade chega cada vez mais cedo nessa turma das telinhas. Quase ao final do filme, o dono do pontapé ergueu a voz e disse:

Pai, quero fazer xixi!

Uma voz de homem sussurrou que o filme estava quase terminando, que era para esperar um pouquinho mais. Mas o menino insistiu: - Vou fazer nas calças. Não dá pra esperar.

Agora a ansiedade estava plenamente justificada, pensei. Mas o garoto repetiu mais duas vezes o apelo desesperado - e o pai nem aí, pois estava ligado no final da história. Aí comecei a ficar ansioso também. E só não encarnei o monstrinho vermelho do filme para xingar o homem porque os créditos finais começaram a aparecer e ele saiu correndo com criança pela mão. Espero que tenha chegado a tempo.

Saí do cinema refletindo sobre o episódio e sobre a ansiedade, esta emoção que nos põe em alerta para agir, mas que também nos desestabiliza quando chega em dose demasiada. Minha conclusão: ou controlamos a ansiedade ou ela nos descontrola. Simples assim. Só que, às vezes, como argumentou o menininho apurado, não dá mesmo para esperar. _

NÍLSON SOUZA

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