21 de janeiro de 2014 |
N° 17680
PAULO SANT’ANA
Os banquetes diários
O diabo é que sempre encasqueto
de me referir, nos meus espaços, ao assunto que está fervendo em minha cabeça.
E hoje estou tomado de encanto
pelo novo refeitório da RBS, de frente para a Avenida Erico Verissimo.
É preciso ver o mar de saladas e
legumes exposto aos consumidores.
E por aí se vão risotos, massas,
feijões e arrozes.
E muita carne de galinha, muita
carne de mamíferos, além de uma variedade caleidoscópica de sobremesas, que vão
de pudins, cremes e doces de frutas até geleias estupendas.
O novo restaurante da RBS mostra
uma azáfama sonora e de gestos de todas as pessoas que participam dos almoços
como se fossem banquetes.
Os almoços são verdadeiras
cerimônias de intervalo do trabalho.
Dá gosto trabalhar para uma
empresa que põe esses tipos de refeições à disposição de seus empregados e
muitas vezes de seus clientes.
São toneladas e toneladas de
alimentos e bebidas consumidas pelo corpo de funcionários da RBS. A refeição
popular custa pouco mais de R$ 2 e lateralmente são oferecidas comidas
extraordinárias pelo preço de R$ 19.
Cada refeição é um evento e a
gente volta dele com mais disposição ainda para trabalhar.
Parabéns aos idealizadores desse
oásis trabalhista e também a seus gentis operadores.
No Brasil não há pena de morte,
mas há penas mais drásticas que essa: são as penas que cumprem, em grande parte
dos nossos presídios, os detentos que não pertencem à casta de presos que
exercem o poder ditatorial, sangrento ou de morte sobre outros detentos nas
galerias abandonadas pela dita segurança das prisões.
Ai de quem seja depositado um dia
nesses infernos que produzem diariamente milhares de vítimas de tortura, fome,
maus-tratos e indizíveis aflições.
Não sei como podem resistir esses
desgraçados a esses calvários diários, nem sei como dormem sob o terror das
ameaças e das agressões esses infelizes.
Para eles, o castigo é pior do
que o inferno.
A opinião pública dá de ombros a
esse caos sob a alegação de que “alguma coisa fizeram para ir para lá esses
marginais”, desconhecendo que um dia podem parar lá alguns parentes e amigos
que temos.
E o caos penitenciário parece não
ter fim. No Brasil, ele dura desde o Descobrimento.
E, quanto mais cresce a
população, maior é o descaso no aparelho punitivo vigente em nossas cadeias. E
isso que a pena é imposta para reeducação e conversão dos presos.