26 de janeiro de 2014 |
N° 17685 VERISSIMO
As aventuras da família
Brasil
Calor
Calor, hein?”
Ou, opcional:
“E esse calor?”
Respostas padrões:
“Nem me fale.”
“Putz!”
“O Senegal é aqui.”
“E a sensação térmica?”
“Você sabe o que é, não sabe?
Aquecimento global. Só pode ser. E só vai piorar”.
“Tá brabo!”
“Estou tomando três banhos frios
por dia e não adianta.”
“Olha como eu estou suando. Pega
aqui a minha camisa. Não, só pega.”
“País tropical, meu filho. País
tropical.”
“Dizem que tem um país europeu
que quando sopra um determinado vento as pessoas ficam tão irritadas, tão
irritadas que, se cometerem um crime, como matar alguém, ou sair pela rua
chutando cachorros, crianças e velhinhos e quebrando tudo, são automaticamente
perdoadas, porque a culpa é do vento. Um calor como este também deveria ser
atenuante para qualquer crime. Mas com um calor como este quem tem energia para
praticar crimes?”
“Haja chope.”
“Tá brincando? Meu ar
condicionado fugiu pro Caribe.”
“Vamos todos derreter”. “Sabe o
que eu sinto quando vejo fritarem um ovo no asfalto para mostrar como está
quente? Inveja. Penso: pelo menos pro ovo foi rápido...”.
Agora, todos juntos (ou pelo
menos os mais de 60):
“Alá-la-ô, ooô, ooô
Mas que calô, ooô, ooô.”
Sim, a sensação é a de atravessar
o deserto de Saara, com o sol forte queimando a nossa cara, como na marchinha
de Carnaval. Pouca água e nenhuma sombra à vista. A noite ainda custará a
chegar com o seu frio envigorante. Talvez nunca chegue, talvez estejamos
condenados a um dia de calor eterno.
E os camelos nos olham com seu ar
superior e a empáfia de séculos. Viemos do Egito, onde ao menos havia primavera,
e não foram poucas as vezes em que no caminho rogamos a Alá, nosso bom Alá:
mande água pra iaiá. Sim, mande água pra ioiô,ooô. Mas antes de mais nada mande
água, com ou sem gás, e se possível gelo, para nós, neste deserto. Um oásis,
Alá. Pode ser de uma palmeira só. Serve até uma miragem, se houver sombra.
Salve-nos da sensação térmica, Alá-la-ô.